Fotografia: Diana Quintela.
Era estudante de Arquitectura quando conheci a Revista Umbigo. Na altura Portugal ainda assistia ao crescimento de alguns ateliês e a construção não estava numa total estagnação como hoje. Já ecoava o termo crise, mas não se discutia um cenário tão pouco colorido. Continuavam todos os meses a surgir novos edifícios e as revistas de arquitectura eram compradas e levadas com entusiasmo para as salas de aula, sendo o suporte eleito para a sede de descobrir novos projectos.
Nas prateleiras dedicadas a publicações de arquitectura e arte a Umbigo surgia com ousadia. Destacava-se pelas imagens, pelo design e a qualidade da edição. Na capa as palavras – umbigo | digo | e | depois | sigo | pelos | púbicos | abaixo | acho | que | encontrei –, associadas a um círculo vermelho no canto superior direito abriam o apetite dos leitores, facilmente enganados sobre o seu conteúdo. Temas associados ao corpo e à sensualidade eram apresentados a partir de diferentes conceitos e linguagens artísticas de forma criteriosa e arrojada, onde não se tratando de uma revista de arquitectura esta também era protagonista. Recordo-me de ler logo no seu segundo número o artigo Arquitectura e o Apelo da Pele – Herzog & de Meuron: O Erotismo de uma Arquitectura Têxtil, escrito por Xana Neto.
As lógicas editoriais como todos sabemos foram-se alterando. Hoje procura-se uma informação rápida e directa, proveniente de uma visita rápida a um blog, um site ou uma rede social. A revista Umbigo também foi sabendo adaptar-se aos novos tempos, numa admirável persistência e exigência dos seus directores, num país onde uma publicação com este perfil tem muitas dificuldades em sobreviver. Passados doze anos, a Umbigo distante de quando a conheci, decide apostar afirmativamente numa plataforma online onde muitas áreas, algumas já sem destaque na sua versão papel, ganham espaço à velocidade a que se bebe a informação nos nossos dias, em registos substancialmente diferentes daqueles que a sua edição trimestral impressa exige.
É nesta versão online da Umbigo que surge o convite para coordenar a secção de Arquitectura. Não sendo a Umbigo destinada a um público exclusivo de arquitectos, dedicando-se a uma pluralidade de áreas, os textos que aqui publicarei estarão distantes de um registo hermético. É no estabelecer de pontes que muitas vezes me situo e vejo aqui a oportunidade de debater e partilhar convosco temas ditados pela disciplina que atravessa uma fase de crises e indefinições, de uma forma totalmente livre, simples (não simplista) e apaixonada. Sem pressões e imposições, este será espaço onde vos falarei de inquietudes, desafiando respostas, sem estar sujeita a um caminho onde não pode haver desvios. A informação do que a actualidade nos oferece, as viagens e as pessoas com que me cruzo ditarão as (não) regras, onde poderei dar voz, sempre que assim o entender, a nomes em que eu acredite para estarem comigo neste separador, numa atitude despretensiosa mas nunca despreocupada.
Fabrícia Valente