Texto: Soraia Rocha, em parceria com a ETIC.
João Cruz nasceu em Sesimbra, a 6 de Janeiro de 1986. Em criança, ou de acordo com as suas palavras, em puto, sempre se destacou por ser diferente, por ter uma atitude irreverente e por querer algo que não se enquadrava no dito ‘caminho normal’.
Em miúdo, sonhava em ser cowboy ou criar a sua própria banda de punk rock. Estas ideias não vingaram, mas, ainda assim, o espírito mantém-se e é expresso em todos os seus trabalhos e criações.
Jovem, artista, surfista, skater e uma promessa a nível artístico no contexto português, cedo se apercebeu do seu interesse pela arte. Recorda, em criança, ir no autocarro com a sua avó e ver graffitis e ficar deslumbrado. Ao tentar fazer igual, descobriu o seu gosto pelo desenho e pela street art. Fascinava-o o facto de se poder expressar livremente e de ter isso como ofício, levando uma profissão tranquila, fazendo o que gosta.
Possivelmente também influênciado pelo seu tio, um pintor, licenciou-se na Faculdade de Belas-Artes da Universiade de Lisboa, no curso de Pintura. Terminada a licenciatura, fez parte do curso Projecto Individual no AR.CO (Centro de Arte & Comunicação Visual). É de salientar que este último projecto foi muito importante no seu pecurso, uma vez que o fez desprender-se e criar livremente, sem tabus, sem ideias pré-concebidas, fazendo com que se identifique e que se reveja ainda mais nos seus trabalhos, sendo mais ele próprio a criar.
Expressando-se em várias vertentes, tão diferentes e tão opostas mas no entanto ligadas, o seu trabalho passa pela pintura, showcases, instalação, design digital, desenho, fotografia, street art, tapeçaria e vídeo arte. Ao procurar que a sua posição enquanto artista e enquanto pessoa se misture, idealiza que o público veja um trabalho seu e identifique-o como tal.
Considera o percurso e o background muito importantes, tenta não forçar e não ter pressa em ser já o maior artista de sempre, optando por preferir ir com calma, trabalhando e evoluindo gradualmente, definindo a sua arte como descontraída, expontânea e livre. Sendo um outsider e ao trabalhar no underground, uma vez que, apesar de vir das galerias não se identifica com esse lado e com a bolha intelectual que existe nesse mundo, alicia-o muito mais o outro caminho. O do artista mais despreocupado, mais rock, mais desleixado até, que quando tem oportunidade de expôr em galerias é muito mais fresco.
Nos seus trabalhos tenta sempre passar alguma mensagem. Sendo essa mensagem pessoal, quem vê o seu trabalho tira a elação que quiser ou aquilo que sentir. A arte é isso mesmo, não é definida, não é preto no branco. É sentida, vivida e observada por diferentes pontos de vista. Na sua opinião, num trabalho de um artista o mais importante é a ideia, esta terá que ser inovadora. Não desvalorizando a técnica, acha que a ideia é bem mais importante, uma vez que terá que ter impacto e ser verdadeira. Para si enquanto artista, evidentemente, é fundamental ter uma boa ideia e saber executá-la bem. Sendo ainda mais importante, divertir-se enquanto cria e passar a tal mensagem, o tal feeling.
Com várias influências e de diferentes áreas, destacam-se Nam June Paik, Jean-Michel Basquiat, Andy Warhol e Raymond Pettibon. Ao inspirar-se na música, no skate, no surf, nas pessoas, no convívio entre amigos, nos super-heróis e um pouco em tudo, realça que a música é a sua maior fonte de inspiração, sendo grande companhia em altura de trabalho e criação. É evidente essa ligação à música, pois muitos dos títulos das suas pinturas são títulos de músicas.
A sua irreverência destaca-se inclusivé nos materiais que usa. Os seus preferidos são aqueles que não são considerados e definidos como materiais mas que acabam por ter essa função. Entre eles, o lixo, uma vez que acha interessante dar vida a algo que à partida já não teria utilidade. As canetas posca, pois são fáceis de usar e aplicáveis em quase todo o tipo de materiais, sendo por ele bastante usadas para escrever em vidro. E ainda, diversos objectos que vai coleccionando ao longo do tempo que, na altura certa, terão utilidade como por exemplo, dentaduras, moldes de dentes, televisões antigas, rádios, entre outros.
Presente em vários projectos colectivos como Manifesto (um projecto de street art), a fanzine Nicotine, Cool Kids Live Forever (outro projecto de street art) e o projecto/blog The Seventy Cookies, é também o único garage artist europeu da marca internacional Insight. Esta foi, sem dúvida, uma marcada evolução no seu percurso enquanto artista.
João Cruz fez, ainda, parte de uma Residência Artística em Lisboa. Um projecto em que cerca de 15 artistas diferentes trabalharam durante um mês nessa residência, um prédio antigo no Rossio, que culminou com uma exposição. Este foi também um projecto enriquecedor e gratificante e que ajudou a divulgar ainda mais os seus trabalhos, tendo sido dos que teve mais impacto e visibilidade. De momento, tem participado em projectos com dois artistas conceituados do nosso país, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira.
Entre exposições individuais e colectivas nas quais participou, destacam-se a ARTELab 21 Tapeçaria Contemporânea, no Museu de Tapeçaria de Portalegre, em 2010; o XXIII Salão de Primavera na Galeria de Arte no Casino Estoril, no âmbito do qual recebeu uma menção honrosa com a pintura It’s Not Gonna Hurt, também em 2010; a exposição individual em Sesimbra com o tema Everything I’m Not, Made Me Everything I Am, em 2011; e a exposição final que decorreu após a Residência Artística, em 2012.
Ao ter como essência uma atitude livre, despreocupada e descontraída, João Cruz mostra ser um dos artistas nacionais mais informal, espontâneo e original, sendo por isso uma promessa no contexto nacional e internacional.
É possível aceder a alguns dos seus trabalhos através da sua página no facebook e seguindo-o no Instagram.
“Um artista é alguém que produz coisas de que as pessoas não têm necessidade, mas que ele – por qualquer razão – pensa que seria uma boa ideia dá-las a elas.” – Andy Warhol.