MÚSICA

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“Os efeitos sonoros de um motim podem criar um motim verdadeiro”, dizia William Burroughs”. Da mesma forma, a última canção cantada por Anamar esta noite levantou toda a gente que estava no Teatro São Luiz, com vontade de vir para a rua gritar por uma re-evolução. “Há uma voz solar que anda no ar / e diz que agora é hora / de a voz de todos nós / vir cá para fora”! – diz a letra da música “A Voz de Todos Nós”, uma do encore do concerto que hoje apresentou ao público o disco que marca o regresso de Anamar aos palcos. Foi um serão de emoções fortes para os que se sentiram hipnotizados por esta mulher carnal, sensual, de voz ancestral e gutural. Uma voz que enche o vazio, que como as vozes das sereias pode encantar ou levar à perdição. Todo o disco foi percorrido, com uma visita de The Legendary Tigerman em dois temas: o clássico da cantora “Tudo Dar” e o novo “Não é Pecado”. Neste concerto até o cliché gasto de pegar no tema “Barco Negro” fez todo o sentido com as guitarradas e uma voz visceral e serpenteante. Do fado que a voz de Anamar sempre tem, veio outro fado: “Canção do Mar”. Uma versão descomplexada de um legado da nossa cultura – Anamar consegue resgatar um lado experimental e lúdico que a pop portuguesa deixou de ter desde os anos 80. Traz ao palco cabaret, fado, jazz, pop, tudo com uma voz de sacerdotiza meretriz. Se nos sentimos inevitavelmente atraídos por esta mulher fatal, também nos deixamos intimidar pela força da sua voz e a presença incontrolavelmente magnética do seu corpo. Vestida de negro, em altos saltos e um cabelo louro descontrolado, Anamar sussurrou, gritou, dançou, riu, meneou as ancas e fez daquela hora uma celebração de tudo aquilo que a que ela nos habituou ao longo da sua carreira. A sua versão de “Sete Mares”, original dos Sétima Legião consegue ser ainda melhor cantada por si. Pela sua voz ressuscita por vezes a voz de António Variações, homem que ela invocou e homenageou com a canção “Quero é Viver”. Este disco foi criado sem “bullshit”, é trabalho a sério e sem cedências. Com estas escolhas musicais, Anamar resgata um optmismo, uma vontade de viver com alegria e de reclamar para a nossa vida a alegria de viver. Nem que para isso se tenha que levantar “A Voz de Todos Nós”. Podia ser o sinal de uma nova revolução!

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