DIÁRIOS DO UMBIGO

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Depois de um fim de semana semi-agitado ao nível da doação do corpo ao manifesto, já que na sexta-feira passada dancei ao som de Art Department (no Zero), de Dexter (bar do Lux) e de Magda (na disco do Lux). Este corpo habituado ao movimento, associativa e mnemonicamente falando, esteve sempre em acção desde a adolescência aquando do seu fascínio pelo ténis de mesa (ping-pong para os comuns mortais) e aí foi feliz sobretudo quando se degladiava com jogadores do F.C. Porto, do Sporting C.P. e do Ginásio (Clube) do Sul.

Sendo eu do Benfica (pela mão do meu pai que me levava todos os fins de semana ao Estádio da Luz, nem que fosse para assistir a jogos de infantis, juvenis e juniores quando a equipa principal não jogava em casa) e numa idade igual ou inferior a dezassete anos, adorava (de)bater-me na mesa com adversários vestidos de camisetes azuis e verdes.

Velhos e outros tempos (meados dos anos 80), em que representava o Casa Pia Clube (sendo o local de treino no colégio de Belém). Contudo, vamos lá a ver: BIBI foi sempre uma abreviatura ou alcunha desconhecida até ao rebentamento do processo, talvez porque treinasse de noite e porque não era interno.

Stop.

Ao final da tarde de segunda-feira, fui à charcutaria do bairro – chamada Bom Manjar que se auto-intitula Eco-Loja mas que insiste a não fazer reciclagem já que continua a pôr as caixas de papelão de frutas exóticas no lixo orgânico - onde costumo ir buscar a sopa do dia (que são sempre todas de legumes, com um aproveitamento derradeiro do que se tem no frigorífico dos restos da semana).

Enquanto esperava pela minha vez, estava a ouvir uma música do novo disco de James Blake nos phones que estava a competir com mais uma emissão estridente do Preço Certo, pois estava no volume máximo no plasma suspenso da Samsung comprado a prestações na MediaMarkt (isto se se gostar mais do slogan: - Eu é que não sou parvo! em vez: - Worten sempre.).

A sopa estava muito boa! Huummmm... Tão cremosa.

Depois de lavar os dentes e de terminar a higiene bocal, pus-me a escrever a presente crónica. Numa busca de apontamentos redigidos em fevereiro, encontrei esta frase:

“Ontem antes de adormecer, e num instante captado de raspão, em modo zapping, da Casa dos Segredos ouvi uma das participantes a dizer a outro: - Eu adoro-te mas não tenho palavras para o definir. Ensimesmei com a expressão. Não ter palavras para definir pode ser tanta coisa. É sentir algo maior que a linguagem. É ter a certeza que se será excessivo se se definir. Mas também é não ter mesmo palavras. Deveria ser o caso. Adormeci. Hoje acordei e a caminho das Caldas da Rainha vejo um peluche enegrecido e abandonado no asfalto de uma rotunda com um repuxo de água. Imagem inquietante, sonorizada por uma expressão vinda da rádio: os poderes atómicos do Presidente da República". Mudo de posto.

Irrompe uma música de Kindness chamada “Cyan”. Sintonizei-me com a realidade.

Num dia marcado pelos flashbacks, fui assolado por esta reminiscência-manifesto:

WORK OUTSIDE OF YOUR FUCKING HABITS.

GOOD THINGS COME TO THOSE WHO WORK THEIR ASS OFF AND NEVER GIVE UP.

GO AND FUCKING FIND YOUR INNER DEMONS.

NEVER GIVE UP OR LET SOMEONE ELSE MAKE DECISIONS WHICH ARE SUPPOSED TO BE YOURS.

IF LIFE GIVES YOU A LEMON MAKE SURE THERE IS TEQUILA AROUND.

IF YOU ARE GOING CRAZY. DON'T WORRY. YOUR MIND IS WAY TOO COMPLEX TO KEEP IT HEALTHY.

TAKE PICTURES OF YOURSELF NO FUCKING MATTER HOW YOU LOOK, YOU ARE JUST DOING IT TO PROVE YOU ARE ALIVE ANYWAY.

FUCKING ACT LIKE IT.

IT'S YOU. THE NEXT BIG THING.

I LOVE YOU. SO GO AND FUCKING LOVE YOURSELF.

Chegado a casa, leio as seguintes palavras de Jonathan Franzen no texto “Liking is for cowards. Go for what hurts.”, citadas na contracapa da revista “I LOVE YOU”:

“But if you consider this in human terms, and you imagine a person defined by a desperation to be liked, what do you see? You see a person without integrity, without a centre. In more pathological cases, you see a narcissist – a person who can’t tolerate the tarnishing of his or her self-image that not being liked represents, and who therefore either withdraws from human contact or goes to extreme, integrity-sacrificing lengths to be likeable. If you dedicate your existence to being likable, however, and if you adopt whatever cool persona is necessary to make it happen, it suggests that you’ve despaired of being loved for who you really are. And if succeed in manipulating other people into liking you, it will be hard not to feel, at some level, contempt for those people, because they’ve fallen for your shtick. You may find yourself becoming depressed, or alcoholic, or, if you’re Donald Trump, running for president (and then quitting).”

Gosto imenso do título do texto porque às vezes sinto-me um motor de busca do que faz doer. Será porque gosto imenso de cicatrizes e de cicatrizar?

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