DIÁRIOS DO UMBIGO

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Fotografia: Denise Cunha Silva

Desconheço se evidente e sequer consensual para a maioria dos seus habitantes, mas uma das características que mais rapidamente associo aos lisboetas é a capacidade para resistir; ou em exercício de actualização terminológica - resiliência. Manifesta-se não só nos acontecimentos históricos de grande escala, como o terramoto de 1755 e o incêndio do Chiado de 1988 (é verdade já lá vão 25 anos), como nos mais pequenos exercícios do quotidiano: subir e descer colinas, saltar de passeio em passeio esburacado, evitar levar com um saco de plástico em dia “rais'ta parta vento”. A tudo isto respondem com determinação, dose igual de resmunguice e outra maior de obstinação.

A diferença entre crença e princípio de demonstração argumentativa pode começar com a apresentação de um exemplo. Encontramo-lo no coração da cidade, no cruzamento entre a Rua do Alecrim e a Praça Luís de Camões, mais precisamente no Palácio Quintela. Falo do mais recente projecto de um dos resilientes, Leonel Moura, que juntamente com João Pedro Silva e respectiva equipa tiveram a coragem de fundar a No School. À primeira vista a estratégia de penetração no mercado por oposição a um conceito tão enraizado socialmente como o de escola poderá parecer suicida. Não é o caso. Quando a determinação é grande o risco em correr no carreiro contrário é facilmente superado.

O importante é que cada “aluno” seja capaz de apresentar uma ideia de produto ou serviço. A partir deste momento estrutura-se todo o processo. Ou seja, durante um semestre, o tandem formado por “aluno” – monitores - formadores convidados deverá funcionar em sincronia. O plano de trabalhos é desenhado para que se adeque às necessidades do “aluno”. Neste aspecto, a No School, assume um cunho vincadamente laboratorial, como que um atelier de experiências distintas. Ensina-se para que as competências se manifestem num produto.

A relação que estabelece com o meio é outra das características que a torna única. No que se refere à definição de parcerias estratégicas, como por exemplo a Portugal Telecom, o principal parceiro e bastante interessada nos resultados que possam vir a ser apresentados, a Microsoft, na potenciação de novas ideias, entre outras. No que diz respeito à preocupação com os mais novos, através da organização de Workshops de tecnologia de informação para que comecem a estabelecer, não só, os primeiros contactos nesta área, mas também competências para desenvolver algumas ideias. Por último, com a sociedade, num sentido amplo, e que se materializa no verbo – vender. Termo que teria pouco cabimento numa escola tradicional, mas que aqui faz todo o sentido, uma vez que se encontra associado à noção de devolver. Retribuir à sociedade o investimento feito na educação individual.

A inscrição não é gratuita e pode não constituir uma verdadeira pechincha. Mas já sabemos, não estamos no território de noções ou mecanismos tradicionais. A pechincha, neste caso, não se encontra no objecto, antes no sujeito. Quem nunca sonhou desenvolver a sua ideia? E vender o produto do respectivo trabalho? E com a liberdade de trilhar o seu caminho criando, para isso, uma empresa? Sim é possível. Ter a ideia é fundamental, trabalhá-lha e organizá-la mais ainda e receber o apoio de uma estrutura como a No School nem se fala. É que quando acreditam não só concedem bolsas de frequência, como jamais deixarão cair quem a implementa – TU!

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