Nasceu em Setúbal, mas vive e trabalha no Porto. Determinada a ganhar a vida a fazer o que gosta, Mariana Morgado, de apenas 22 anos, após ter terminado o curso de Design de Moda no CITEX, em 2011, e de ter estagiado no estúdio de Katty Xiomara, decidiu criar a sua própria marca.
No âmbito da plataforma Fashion Hub, um dos projectos de Guimarães 2012 em parceria com o British Fashion Council e o The Mushrooms Group, Morgado foi a Londres (cidade para onde pondera mudar-se, brevemente, com vista a internacionalizar o seu trabalho), apresentar a sua fantástica colecção de Primavera/Verão 2013, intitulada Kryptonee, na Somerset House, durante a London Fashion Week.
Qual foi a tua inspiração para esta colecção?
A inspiração foi o séc. XIX e a mulher correspondente a esta época, nomeadamente o “Movimento das Sufragistas”, luta pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Após a definição da época, procurei aquilo que no norte de Portugal, mais precisamente no Porto, seriam marcas representativas desta época e encontrei as fachadas e os portões de diversos edifícios. Após a pesquisa e a recolha fotográfica desenhei os bordados. Os materiais foram escolhidos de acordo com a silhueta que criei, sendo o material principal o plástico transparente. Este material representa a clareza e a transparência com que estas mulheres punham em prática as suas ideias, representa a sua determinação crua e verdadeira, a maneira de mostrarem os seus objectivos e ideias de uma forma transparente. Após uma pesquisa aprofundada, apercebi-me que, a nível de cores, era uma época muito escura, dominada pelos cinzentos e pelos pretos. Porém, o branco também era uma constante. Pegando no branco e acrescentando cores, como o azulão, o amarelo e o verde fluorescente, “dei cor à época”, cor que a época precisava na altura. O nome da colecção está directamente ligado à cor. Após uma experiência no séc. XIX, Ramsay retirou da fórmula, dois gases: o Krypton e o Neon. Com estes dois elementos químicos, conseguiu as cores que hoje são conhecidas sob a designação de NÉON, daí o nome “Kryptonee”.
Recentemente, apresentaste esta tua colecção, durante a London Fashion Week, na Somerset House. Em que medida é que essa passagem por Londres foi importante para ti e para o teu trabalho?
A experiência da London Fashion Week foi um momento essencial para a divulgação do meu trabalho, não só pelo facto de ter tido oportunidade de integrar tal evento, mas sobretudo por me permitir partilhar o meu trabalho com um público internacional. O Fashion Hub trouxe-me a visibilidade que eu necessitava naquele momento, foi essencial para começar a ter um “feedback” internacional do meu trabalho que, até à altura, se movia essencialmente em Portugal. Está nos meus planos mudar-me brevemente para Londres e continuar a internacionalizar o mais possível o meu trabalho. Quero continuar, sem dúvida, activa e a colaborar com a moda em Portugal, mas, neste momento, sinto que é importante para mim dar este passo, tendo em conta que o “feedback” foi muito positivo.
Nasceste em Setúbal, mas, agora, vives e trabalhas no Porto. O Porto é a melhor cidade portuguesa para se trabalhar em moda?
Vim para o Porto com 18 anos estudar moda, vim atrás do meu sonho e da que se dizia ser a melhor escola de moda em Portugal. Foi aqui também que fiz o meu estágio e senti, de alguma forma, que era no Porto que tinha que estar. Não digo que seja a melhor cidade, porque em Lisboa há mais eventos e mais oportunidades para mostrar o nosso trabalho, mas também sei que é no Porto que se “faz” a moda, uma vez que a maior parte das fábricas de confecção e toda a indústria envolvida reside aqui, no norte de Portugal. Para mim, faz mais sentido estar perto dos locais onde, com mais facilidade, posso materializar todas minhas ideias e tudo o que crio.
Marques ‘ Almeida, Senhor Prudêncio e muitas outras marcas e designers portugueses (tu incluída) parecem estar a ganhar cada vez mais visibilidade, não só a nível nacional, mas também internacional. Sinto que, apesar da crise, está emergir, em Portugal, uma geração de mentes criativas com enorme potencial e que deposita imensa paixão no que faz. Concordas? Qual é a tua opinião relativamente ao actual panorama da indústria da moda portuguesa?
Acho que os tempos pelos quais estamos a passar fazem com que as pessoas que querem realmente seguir o seu sonho tenham que se esforçar para o concretizar. Há muita gente a fazer trabalho excepcional, mas o que distingue neste momento as pessoas, a meu ver, é a vontade e o querer. A persistência é essencial nesta área. Acho que Portugal é um país cheio de talento em todas as áreas criativas e, sem dúvida, na área da moda, é uma grande incubadora de talentos. Apesar de não haver muitas plataformas de moda para jovens criadores podemos sempre contar com iniciativas como o BLOOM (PortugalFashion) e o LAB (ModaLisboa). Talvez faltem mais plataformas deste género e mais concursos para que novos talentos possam emergir. Estamos a passar tempos menos bons, mas não nos devemos lamentar e sim fazer algo por isso. Como jovens “designers”, creio que devemos lutar por aquilo que queremos, promovendo o nosso trabalho ao máximo, tentando estabelecer colaborações e vínculos que o ajudem a crescer.
Vejam o lookbook completo da colecção S/S 13 da Mariana Morgado.
créditos das imagens:
Fotografia: Matilde Travassos
Direcção de Arte: Nelson Vieira
Maquilhagem: Tânia Pinto
Cabelos: Bruno Bessa Cruz
Modelo: Dariia Makarova (Karacter Models)