Sempre quis viver no centro de Lisboa, o maior reboliço e azáfama possíveis em Portugal. Adoro a confusão, as ruas vivas com tudo a acontecer a todo o tempo. A Ásia pôs Lisboa em perspectiva em relação a quase tudo, o caos é uma dessas coisas. Kuala Lumpur não tem os milhões de motas por rua de Ho Chi Minh ou de bancas de comida de Banguecoque, a vida é feita em altura e em ambientes esterilizados de ar condicionado: os arranha-céus parecem ser a alma da cidade.
KL, como dizem os cool, não parece ser sítio de grandes distracções ou festa, está a aprender com o chamado mundo mais civilizado. Aqui vive-se para carreira, o dinheiro ou a família e no fim do dia, se sobrar tempo, agarra-se no BM e vai-se beber um gin a um sky bar qualquer num 40° andar. Aquilo de que fugi está aqui tudo – inclusivamente a cerveja a €3 e o gin a 15.
Os locais, desde recepcionistas de hostel até consultores de multinacionais, estão aqui para trabalhar e não percebem, nem lhes passa pela cabeça, porque é que alguém haveria de querer passar a vida a viajar. Mas viajar para quê, viver sem carro como, e sem saltos altos, como não têm televisão, a sério que não precisam de mais roupa, e se estão aqui aos 30 como é que vão fazer para começar a construir o vosso pequeno império material quando voltarem a casa?
Rio-me, penso na minha mochila, tudo o que tenho, tudo o que quero ter – também não percebo de que é que eles estão a falar.
Os dias podem ser passados em monstruosos centros comerciais ou em pequenos parques verdes no meio da cidade – o calor também não ajuda às opções. Ao lusco-fusco podem espreitar-se os mercados de rua, a Chinatown, mas é como ir ver resquícios pequeninos que ali ficaram para turistas. É mais como ir à feira da Torre da Marinha (imaginem o Príncipe Real ao Domingo mas a vender coisas úteis a pessoas reais) do que a um tradicional mercado de rua asiático.
Em Kuala Lumpur a comida continua a ser boa mas aqui já é preciso fazer contas. Há muito peixe e marisco e o conceito de restaurante já não é apenas ter umas tábuas a fazer de chão e tecto. Para além da raia, cozinhada aqui de todas as formas, os dim sum chineses e os barbecues coreanos, a estrela deste episódio gastronómico terá de ser o Durian! Conhecido como o rei dos frutos, os malaios, sejam de que etnia forem, arregalam os olhos e explodem em histórias e entusiasmo sempre que falamos nele. É proibido nos espaços fechados por causa do cheiro quase pestilento e chega a custar €11 o quilo – e aquilo é grande! Dizem que não se pode misturar com álcool, que é muito pesado e até que dá moca. Depois de todo este alarido, o Durian descascado parece uma manga mas a textura e o sabor são realmente estranhos a dar para o inexplicável. É mole e morno, o cheiro cola-se às mãos, o sabor é tão forte que fica horas a anunciar-se no estômago. É uma boa experiência que não apetece repetir todas as semanas. É esquisito. E isso é bom. É o ornitorrinco da fruta.
E as vistas? As torres Petronas, souvenir-rei de Kuala Lumpur, impressionam de qualquer ângulo. Foram construídas para ser o maior edifício do mundo e agora já só são o nono. À volta só bares nos telhados e copos de Hendricks a olhar para elas. E as obras do próximo edifício maior do mundo, a impedir a evanescência mundial da Malásia.
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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.