Um rectângulo azul. Duas palmeiras, uma prancha amarela, a casa cor-de-rosa de linhas modernistas e principalmente os traços brancos difusos, indiciando um mergulho recente. O sujeito e o que se pretende ver. A impossibilidade. Escondido por detrás da mancha, mas que se adivinha. O infinito, o imaginado e todo o que se ambicionar, ali debaixo de água, no mergulho. A Bigger Splash de David Hokney é imagem em retina permanente, é vontade de evasão. A água e os hemisférios de escape. Sem recorrer aos mecanismos exaustivos da memória poderíamos fazer alusão ao filme de Jean Vigo, Taris (França, 1931, 10'), à piscina do Milhões de Festa, ao vídeo de Killie Minogue – Slow e ainda, sempre e sempre Ludivine Sagnier em Swimming Pool de François Ozon. A piscina como pathos, paixão endiabrada, fulgores momentâneos e excessos muitos.
Num exercício da mais livre imaginação – retiremos a água. O mesmo rectângulo de azulejos azulados. O que resta? Que imagem retemos? Um lugar deserto? Um amontoado de folhas secas, a expressão máxima da desolação ou como afirma Lucrecia Martel sobre Cienega – “Uma piscina é um enorme privilégio. E parece-me que há um enorme egoísmo numa piscina”. Diria o mesmo, a cineasta argentina, se este Sábado (07 de Novembro) se deslocasse ao Tanque, Ruas das Portas de Santo Antão, 110 para assistir à inauguração desta nova plataforma para eventos de Lisboa? Não sabemos, mas poderemos sugerir convite.
No centro da cidade, ao lado do Coliseu e entre a azáfama de sugestões gastronómicas em três línguas, mínimo, nasce um novo espaço – O Tanque (antiga piscina do Ateneu). A abertura ficará a cargo de Moulinex e Throes + The Shine. Para o projecto de Luís Clara Gomes será a celebração de Elsewhere (2015) e oportunidade não só para a apresentação de novo single Things We Do e para o novo disco de remisturas Elsewhere Remixes pt. 1, que conta com as participações de Miami Horror, Crackazat, Oma Nata, Savanna e Cut Slack. Para o colectivo entre Luanda e Porto, Throes + The Shine, a oportunidade é perfeita para fechar um ano inesquecível e preparar ano de 2016 com a edição de novo disco, com o selo da Discotexas e produção do mesmíssimo Luís Clara Gomes (Moulinex).
Regressando a Lucretia Martel – “Uma piscina é muito parecida com uma sala de cinema. O ar é um meio elástico, o som propaga-se nesse meio. Estar encerrado numa sala de cinema é como estar dentro de uma piscina. Estamos imersos. Não temos a consciência de que vivemos imersos no ar. Só o som é que nos pode dar essa consciência.” Haverá melhor sugestão para imersão total? E melhor som?
MOULLINEX | THROES + THE SHINE
07 de Novembro . O Tanque . €12 . 22 horas (abertura de portas)