Um dos desfiles mais aguardados de todas as edições da ModaLisboa é sempre o de Filipe Faísca. A cada desfile o público é surpreendido seja pelo lado performático como pela qualidade das suas colecções de moda. Nesta edição da ModaLisboa a expectativa era ainda maior porque se sabia que Joana Vasconcelos tinha criado uma grande escultura para fazer parte do desfile, com o mesmo nome da colecção - “Call Center”. Sabia-se também que era a oportunidade para rever Sofia Aparício na passerelle. Mas as expectativas foram maiores do que os resultados...
De facto, Joana Vasconcelos criou mais uma de suas impactantes peças, uma enorme pistola Beretta toda forrada a telefones antigos pretos. A peça sem quaisquer falhas de construção e de inegável apelo visual, só por si seria uma razão para validar o desfile. No entanto, o que se seguiu foi um enorme bocejo. Sofia Aparício, de rosto tapado, não satisfez a ânsia de a vermos, ainda que ela tentasse interagir com a escultura, o que significou apenas pegar num telefone e simular uma qualquer chamada. Nada de muito criativo. Depois seguiram-se todas as modelos de rosto tapado como se de burkas se tratasse e vestidas com os coordenados mais sensaborões alguma vez vistos neste criador. Preto e branco elegante e chato, sem nada de mal ou de bem que se possa dizer. Um desfile “safe” - palavra proibida no léxico da moda de autor. O público foi visto a olhar o tempo todo para os sapatos vertiginosamente altos à espera de um momento de queda que animasse o momento. Mas tal não aconteceu. Tropeções, um vacilar aqui e ali, uma modelo que se descalçou. E os olhares voltaram-se de novo para os telefones que se esperava que tocassem. Mas nada. Uns auscultadores Samsung tinham sido distribuidos por meia dúzia de vips mas mesmo eles não tinham nada a acrescentar ao desfile. Terminou então a apresentação e a imagem que ficou na cabeça de todos foi a de uma enorme pistola preta e brilhante, simultaneamente ameaçadora e apelativa.