DIÁRIOS DO UMBIGO

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Peço desculpa pelo delay na publicação desta minha experiência no BOOM. Mas o regresso à realidade deixa as suas sequelas. Vi e revi as imagens que recolhi nas margens da albufeira da Barragem Marechal de Carmona (em Idanha-A-Nova) e a ambição de mostrar, através delas, um retrato aproximado do que é o BOOM ía esmorecendo. Por muito que fotografe, por muito que escreva, que diga, o BOOM só se explica... estando lá.

Não acreditem nos disparates proferidos por quem nunca lá foi. O que é o Boom? cada um que lá vai terá o seu. Aliás é mesmo isso: “Make your Boom!” lia-se nos vidros dos carros cobertos pelo pó, estacionados na Boomland.

A Ângela da Argentina já veio três vezes ao BOOM. Agora que já é mãe quis que a primeira viagem, com a filha bebé Lur e o pai dela, fossem ao Boom. Uma família como muitas outras no Boom. Han da Finlandia que veio pela primeira vez confessou-nos que o Boom, estava ser “um sonho tornado realidade”. Ao seu lado estava a brasileira Annie que vive em Berlim e veio até Idanha à boleia diz-nos que “o Boom é um festival de transformação. É uma revolução em movimento de mais de 40 mil pessoas com o objectivo de mostrar o que pode ser a vida neste planeta de uma forma mais equilibrada e sustentável”; Annie salienta ainda a organização do festival. “No Brasil temos o festival Universo Paralelo mas nada comparado; aquilo lá é mais uma festão. Aqui é incrível cara! Por exemplo: não vemos lixo num evento com esta multidão”. O Luís Brito de Lisboa veio pela primeira ao Boom e disse-nos que, momentos depois de chegar, já se sentia em casa “sabes aqueles sítios que sonhamos em criança? Pois o Boom é isso mesmo. É do caralho isto!”...

A informação é tanta e tudo tão novo para quem chega pela primeira vez à Boomland que é difícil escolher no que nos focamos. A organização impecável mas que não se “sente”; a ausência de marcas e toda aquela poluição visual típica do negócio dos “festivais de verão”; a assistência médica (testemunhada por mim numa tenda vizinha); o já tão falado CosmicCare (para onde são encaminhadas pessoas que viveram más experiências com drogas); a presença do projecto Chek In que monitoriza “sem moralismos” os tipos de drogas que circulam pelo festival e procura evitar que não hajam surpresas a quem opta por essa solução “porque no fundo todas as pessoas sejam ou não consumidores querem ter a sua saúde em primeiro lugar” dizia-nos o Albano do CheckIn; a ETAR ecológica que trata as “águas residuais” e as reaproveita; os WC ecológicos que não gastam água e que permitem o reaproveitamento de tudo o que ali se produz (mesmo tudo: “Shit is Gold” lê-se); os pontos para depositar a água que já não queremos a fim de ser reaproveitada, os pratos das zonas de alimentação em verguinha reutilizáveis; água potável disponível por todo o lado e gratuita. Tudo isto eficiente.

E se em 97, o Boom começou com uma festa de Trance, hoje é muito mais que isso. Claro que dois dos spots principais são o Alchemy Circle o extravagante Dance Temple (um estrutura feita quase exclusivamente em bambu) e que à noite é a pista principal e se torna palco de videomaping, dj sets, de Trance imparáveis até ao dia seguinte, esculturas luminosas e... alucinantes (sem recurso a substâncias alucinogénicas..imagino se...). Por estas duas pistas de dança gigantes passam os melhores criadores de Trance do mundo 24 horas sobre 24. O volume vai mudando consoante a hora do dia. O espaço Chillout Gardens é para recuperar. Espalhados pelo chão desta tenda gigante repousam corpos de boomers cansados embalados por sons mais tranquilos e tocadores de cítaras (por exemplo). O Boom não é conhecido pelos concertos, no entanto há um palco bem menos exuberante mas numa zona muito concorrida o Sacred Fire. Por ali os Dj sets foram sendo intercalados com concertos de bandas como os portugueses Sensible Soccers, Black Bombaim, Olive Tree Dance, entre outros. O espaço aparenta ser uma floresta decorada por cogumelos gigantes iluminados e, lojas de alimentação exóticas.

Depois há as praias com a Funky Beach(num dos estremos do recinto e mais longe desta zona central): música “tropical” para dançar na água e na areia de cocktail na mão (outro tipo de Chillout). A lista é grande e não me posso alongar muito...tenho que falar na Healing Area onde actividades como as massagens, “baby swin” (para bébes), meditação, yoga, auto-conhecimento, bioenergia, ou qualquer outra espontânea (por parte de algum boomer) ocorrem ao mesmo tempo. A Liminal Village onde têm lugar conferências sobre temas como a ecologia, sustentabilidade planetária, estilos de vida anti-capitalismo, e, este ano (o tema do festival) o Feminino.

As áreas de alimentação são tão variadas quanto as nacionalidades que por ali circulam naqueles dias (150 mais coisa, menos coisa). Não me esqueço de referir os pequenos almoços de gelado de açaí com cereais, mesmo ali ao lado da Dance Temple ao mesmo tempo que os resistentes continuam imparáveis a dançar depois de o terem feito toda a noite. Isto tudo num cenário edílico de daquele lugar onde a hora do pôr do sol é todos os dias especial.

Olhando de longe, para todo o recinto, as movimentações lentas e sem pressa dos boomers fazem lembrar uma espécie de peregrinos. Que chegaram ao destino que procuravam. O ar é de uma felicidade e tranquilidade que contagia quem ali vai. Chega-se à Boomland vindo de toda a parte do mundo, de todos os continentes mas parece-me que o caminho que cada um fez para “ali” chegar se resume a outro tipo de distâncias que não têm a ver com geografia. E vai continuar. O BOOM é uma paragem para descansar, mas esse “caminho” continua. Há uma positividade, um expectativa de que que afinal ainda há soluções que levem a um equilíbrio longe da manipulação comercial que afecta a vida humana e a sobrevivência dela no planeta.

Daqui a dois anos quem sabe os caminhos nos levarão ao Boom outra vez.

(este texto reflecte a experiência de dois novos boomers: Alípio Padilha e Sofia Marques Ferreira)

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