DIÁRIOS DO UMBIGO

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Fotografia: Vogue Estados Unidos Janeiro de 2007.

Havia um programa aqui há uns anos, com a histérica da Teresa Guilherme (acho), que, apesar de nunca ter percebido do que se tratava, tinha a certeza que havia uma coisa que o concorrente não se podia esquecer para vencer: a escova de dentes.

O papel da escova de dentes é muito importante na existência “da gente”. Escovar os dentes mantém-nos sãos oralmente, poupa na carteira e deixa os dentistas mais pobres (e a nós mais ricos), entre outros. Como por exemplo, manter o hálito saudável. Mas mais que isso, a escova de dentes desempenha um papel emocional fortíssimo e importantíssimo.

A sério, isto pode soar estranho, mas pensando bem, ninguém sai ileso ao grande teste da “escova de dentes”. Faz parte da vida de todos nós. Aquele momento em que olhamos para o copo da casa de banho e fitamos aquela escova - que nem sempre é verde da cor da esperança (quem não passou por isso, que atire a primeira escova). Muitas vezes, e mesmo não sendo verde, a certeza de que o dono daquela escova voltará a dar-lhe uso, surge. Os dias passam, e o olhar sobre aquela escova que tem aquele dono que certamente voltará, sucede sucessiva (passe a redundância) e ilusoriamente. Mesmo quando não se acredita em nada, mesmo quando não há esperança, acha-se sempre que aquela escova voltará a ter uso pelo seu dono.

Até ao dia – uma frase que adoro porque deixa adivinhar o que acontecerá mais à frente, sem dizer nada ou sequer recorrer às reticências. “Até ao dia”. Até ao dia, por exemplo, em que alguma coisa sugere que a existência daquela escova ali a criar bactérias, é inútil. Até ao dia em que deixamos de vislumbrar qualquer futuro que possa existir, com o dono daquela escova ali, que nem sequer era verde cor da esperança. Esse é o chamado dia da libertação. O dia em que finalmente entendemos a grandeza do universo, e de como o dono de uma rídicula escova de dentes é apenas isso: o dono de uma ridícula escova de dentes.

Colgate ou marca Pingo Doce, who cares. Uma escova de dentes que, mais dia menos dia, será trocada por outra, provavelmente de uma marca melhor. A escova de dentes define o nosso renascer. Aliás, o sabermo-nos livrar dela define o nosso renascer. O momento que marca o início de um novo ciclo. Qual psicólogo, quais copos, qual “novo parceiro”, qual droga, qual anti-depressivo, quais festas, qual quê. O dono da escova de dentes só se apaga quando se dita o fim da escova de dentes naquele copo. Quando esta vai, decidida e conscientemente, para o lixo, o dono torna-se parte do inconsciente.

Arrumado. Não sei quais as regras da Teresa Guilherme (se era ela) no jogo dela, mas sei de uma coisa: tal como no programa de TV, também na vida não nos podemos esquecer da escova de dentes se queremos vencer. Ela – ou o seu fim - prescreve todo um futuro que pode variar entre o morrer de vez e o renascer de novo. E a vitória está só e apenas nas nossas mãos. Naquela mísera escova.

Brush your teeth, smile and don’t put more than three colours together.” Ines de la Fressange

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