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West Coast Pop Art Experimental Band – A Child of a Few Hours is Burning To Death (Vol. 3 – A Child's Guide To Good And Evil, 1968)

Os West Coast Pop Art Experimental Band são uma curiosa banda dos anos 60 que têm não um mas vários No Hit Wonders. Poderia ter escolhido Shifting SandsLeyla ou Smell Of Incense (que tem um solo de guitarra apavorante).

A minha escolha é A Child Of A Few Hours Is Burning To Death pelo simples facto de que foi a primeira música que ouvi deles quando, mesmo à velha guarda, finalmente encontrei um álbum à venda na Discolecção. Ao ler o nome da primeira faixa dessa edição, a minha curiosidade estava ao rubro. Quer dizer, uma criança de poucas horas está a arder até à morte em pleno sonho hippie dá que pensar.

Ao pôr o disco a rolar, começa este simples tema com uma guitarra meio bluesy mas algo entre cortada e os meus ouvidos ficaram logo em estado de alto alerta. O baixo entra lânguido, preguiçoso mas sensual e a bateria mantém o ritmo firme e seguro. A voz é hipnotizante de um modo quase preocupante e a letra quase abjecta e não tão surreal quanto isso deixa qualquer um com um gosto em ver fogos como a Suzy e o Bobby mencionados no refrão.

É então que começa o processo de descobrir mais a fundo quem eram os West Coast Pop Art Experimental Band. Claro está que não poderia ser uma história normal.

Os West Coast Pop Art Experimental Band são oriundos de Los Angeles e tinham em Bob Markley uma personagem deveras interessante por trás de algumas das suas façanhas. Bob Markley era o filho adoptivo de um magnata do petróleo. Quando viu a reacção da audiência feminina durante um concerto dos Yardbirds numa festa privada, decidiu entrar no mundo da música com o propósito de engatar membros do sexo oposto.

Entram em cena os irmãos Shaun e Danny Harris que juntamente com Richard Lloyd já tocavam previamente a conhecerem Markley. Este propôs financiar a banda sob a condição de se juntar a eles. Armado com um arsenal financeiro fruto do império do padrasto, Bob Markley financiou concertos com um espectáculo de luzes arrojado mas em linha com a época, fazendo os West Coast Pop Art Experimental Band uma atracção ao vivo.

No entanto, o facto de ser um pouco mais velho, aliado ao seu verdadeiro interesse em estar no mundo da música, faziam-no uma figura que acertava um pouco ao lado do alvo. As suas letras eram reflexo de alguém que não estava bem dentro da 'cena' mas sim alguém que queria forçar a visão psicadélica do mundo de então.

Talvez por não ser um hippie de gema, Bob Markley forçava a barra e acabava por escrever letras com algum distanciamento. Como resultado, acabava por ser mais extremo e ia talvez mais longe do que outras bandas com mensagens anti-guerra (por exemplo, 'Napalm is perfect for women and children'; 'Pretend it's not happening/ It will be clipped/ Out of tomorrow's news show/ After the funeral after the feast, baby/ With so many bodies at our feet).

O seu legado é também letras com ênfase em raparigas muito mais novas (como 'Queen Nymphet'). Como resultado tivemos uma banda dividida e fragmentada, onde o núcleo Harris/Lloyd (ao qual se tinha juntado o guitarrista supremo Ron Morgan) se encontrava preso a alguém que providenciava fundos monetários gigantes mas que ao mesmo tempo só queria ser uma simples banda de pop-psych.

O efeito prático foi uma banda que se foi separando aos poucos, deixando Markley sozinho e com ilusões de que era ele o verdadeiro génio musical da banda. Tão sozinho ficou que desapareceu, fazendo raras aparições ao longo do tempo cujos relatos falam de um homem que não estava bem mentalmente.

Na altura e apesar de algum sucesso, os West Coast Pop Art Experimental Band eram vistos de lado pelos seus pares mas com o passar do tempo, a música dos WCPAEB foi ganhando um novo carisma e esconde hoje em dia pérolas pop-psych que não passam despercebidas a ouvidos mais sintonizados para o final dos anos 60.

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