Fotografias: Rafael Maurício.
“Façam-me uma fragrância que cheira a amor”, disse Christian Dior. Em 1947 o criador de moda parisiense lança o seu primeiro perfume: Miss Dior. O perfume é emblemático do New Look e é a bandeira da casa Dior até hoje, tendo conhecido já 16 versões e sendo actualizado todos os anos com novas interpretações. Se foi em homenagem à sua irmã que Christian Dior nomeou este perfume, hoje em dia a musa da marca é Natalie Portman, rosto de Miss Dior em todo o mundo. Para celebrar 66 anos de história e sedução, a Dior inaugurou no dia 12 de Novembro a exposição “Esprit Dior – Miss Dior”, no Grand Palais em Paris. Foi montado um pequeno universo de referências de Christian e da casa que fundou, sempre tendo como pano de fundo um perfume emblemático: Miss Dior. A revista Umbigo esteve presente neste evento a convite de Joana Vasconcelos e da Dior.
A exposição divide-se em diversos núcleos que documentam as relações de Christian Dior com os artistas seus contemporâneos (como Salvador Dalí, Miró e Man Ray, por exemplo). Na verdade, Christian Dior tinha fundado uma galeria de arte antes de ser costureiro e por isso lidou de perto com artistas durante toda a vida. Para além de pinturas e retratos, são exibidas fotografias, manuscritos e documentos relacionados com estas vivências. Mas a exposição é multifacetada e inclui ainda outros temas como: “Christian Dior, a sua vida, a sua criação”, “De Granville a Grasse, os jardins e casas de Christian Dior”, “1947, Miss Dior. A fragrância do primeiro desfile de moda”, “As senhoras da Avenue Montaigne 30”, “Miss Dior e as Estrelas”, “A Ânfora Miss Dior”, “Miss Dior by Raf Simons: Os vestidos desenhados para Natalie Portman.” Trata-se de um mundo de sonhos e contos de fadas, em que o romantismo é real e prevalece acima de tudo.
Mas a maior surpresa de todas é um projecto que levou muito tempo a concretizar e que envolve 15 mulheres artistas de todo o mundo em torno de Miss Dior. Elas foram convidadas pelo curador Hervé Mikaeloff a criar peças de arte contemporânea que reflectissem os vários códigos visuais do perfume Miss Dior. E assim Miss Dior ganha novos imaginários sem perder de vista a sua identidade.
A artista americana Polly Apfelbaum usa o motivo quadriculado que adorna o frasco de Miss Dior para criar um enorme tapete multicolorido. Ao lado da sua criação, várias caixas Miss Dior e acessórios, sempre com o famoso padrão xadrez preto e branco, são exibidos.
O rosto de Miss Dior foi a fonte de inspiração para mais de um artista. A artista coreana Lee Bul imaginou Natalie Portman exalando a extraordinária força de sua encarnação de Miss Dior. Esforçando-se para transmitir o efeito de espelho entre a mulher e a musa, ela desenvolveu um conceito a partir de reflexões infinitas: um cristal monumental e estrutura metálica que convida os visitantes a descobrir e explorar.
A fotógrafa britânica Hannah Starkey focou-se no laço Miss Dior desenhado por René Gruau, bem como na história da primeira musa da fragrância, Catherine Dior. Intrigada pela personalidade extraordinária da irmã mais nova de Christian Dior, membro da Resistência Francesa que foi deportada durante a Segunda Guerra Mundial.
Joana Vasconcelos, artista visual conhecida pelos seus objectos de grandes dimensões, interpretou o laço Couture que enfeita o pescoço do frasco Miss Dior, criando um imenso laço feito de centenas de garrafas de... J'adore! Para dizer "eu adoro Miss Dior." O famoso vestido vermelho "Concerto" (1957) é mostrado ao seu lado.
Joana Vasconcelos vestida por Filipe Faísca.
A artista visual americana Alyson Shotz também escolheu a rosa emblemárica de Dior, criando uma estrutura prodigiosa coberta com uma película de reflexão da luz. O seu esqueleto irisado transmite a beleza futurista em tons vibrantes e parece mover-se através do espaço.
A escultora brasileira Maria Nepomuceno também usou o frasco Miss Dior como pontos de partida para a sua instalação colorida. Réplicas de cerâmica do frasco parecem engendrar uma estrutura orgânica que alastra e mistura missangas, crochê e plástico.
A artista italiana Carla Mattii inspirou-se na rosa retratada num cartaz pelo ilustrador René Gruau. Ela criou um canteiro de rosas brancas usando um material de alta tecnologia finamente recortado usando um processo de 3D.
Carole Benzaken, pintora e escultora francesa, baseou a sua criação na tampa em forma de cubo do frasco Miss Dior. A artista usou galhos de árvores em vidro para encarnar a própria noção de "aroma olfactivo".
A artista japonesa Tomoko Shioyasu presta homenagem à rosa, a rainha do jardim de Dior. Inspirando-se em Victoire de Castellane que cria a Haute Joaillerie de Dior, ela construiu uma tela de papel branco com furos que retratam uma rosa imaculada.
A pintora americana Karen Kilimnik encontrou inspiração nas "Follies", exibindo o luxo de que Christian Dior gostava, como inspiração para o "Temple of Love" de Versalhes. Ela escolheu reconstituir uma versão da sua decoração encantada.
A designer eslovena Nika Zupanc inspirou-se no laço sobre o frasco de Miss Dior. Ela imaginou e projectou uma sala inspirada em Virginia Woolf. Neste espaço rosa e preto, cujas paredes apresentam o padrão Dior cannage, o visitante senta-se numa cadeira, cujas costas formam um laço. Um convite para pensar e escrever.
A designer francesa Ionna Vautrin pegou na luva Miss Dior, da ilustração original de René Gruau. Ela criou um enorme pavilhão cujo telhado é composto inteiramente por milhares de luvas de várias cores.
Christian Dior e seus amigos artistas.