As últimas semanas foram algo conturbadas. Uma viagem á idílica ilha da Madeira, 3h a soro no Hospital do Funchal antes de ir trabalhar no aniversário da Fluid, o regresso directo para o aniversário do Lux, e uma anestesia geral para uma cirurgia ao apêndice que insistiu em me abandonar. Na sala de recobro do Hospital estava numa realidade muito difusa e o meu cérebro dopado da anestesia começou por fazer música com os apitos das maquinetas dos ritmos cardíacos, para algum tempo depois estar completamente em festa. O local era decorado em tons de castanho, laranja e bordeaux com iluminação difusa e que acendia e apagava. Havia um relógio na sala mas as horas pareciam passar de forma alucinante e desordenada. Havia várias divisórias, como uma espécie de corredores ao jeito do Maurits Cornelis Escher: todos se cruzavam entre si mas não se percebia que assim era. Procurava pela pessoa que tinha estado comigo a ver passar as estrelas na varanda mesmo por cima do mar, enviava-lhe sms e telefonava-lhe mas não obtinha resposta. Continuava por ali a deambular e a falar às pessoas. De cada vez que me dirigia ao bar e pedia mais um vodka maracujá notava que o chão estava inclinado, sentia-me cada vez mais nas nuvens. As pessoas amontoavam-se e agitavam-se ao ritmo da música que era ao mesmo tempo excitante e descontraída – o tipo de música que oscilava entre o frenesim e o sussurro. Lembro-me vagamente desta:
Entretanto um médico aproximou-se e disse-me que também gostava de música e até tocava numa banda. Lá ao fundo as enfermeiras preparavam shots e uma veio direita a mim dar-me uma injecção na barriga. Depois voltei ao meu sorriso ao ouvir música na minha cabeça.
Só despertava deste estado de torpor e confusão mental quando uma hospedeira se aproximava e perguntava se estava tudo bem ou me oferecia um curativo qualquer. Tinha a sensação de estar sempre com um sorriso na cara quando isto acontecia. Devem pensar que sou louco – pensava eu. Não queria acordar da música que estava a ouvir. O quarto tinha vista para o mar e podíamos ouvir as ondas. 33! Diga 33! Temos de mudar de quarto, vais para outro hospital. E lá fui eu levado numa ambulância em turismo hospitalar.