Portugal Morreu! Viva Portugal! Parece ser a expressão que se aplica a uma escultura apresentada em performance por Miguel Januário, artista também conhecido pelo seu projecto Mais Menos. Trata-se de um caixão em forma de Portugal, um pouco à semelhança da piscina que Joana Vasconcelos tem plantada na doca de Santos em Lisboa. A performance/funeral realizada por Miguel Januário teve lugar em Guimarães, mas serve como exemplo do alto grau de ironia que este artista é capaz de alcançar. Um país morto com caixão a condizer, deitado em cama de cravos vermelhos. Não se pode pedir uma arte mais ácida do que esta. É a crítica elevada ao sarcasmo e ao humor negro. Esta alusão serve como aperitivo para estimular o apetite para a exposição de Miguel Januário na nova Galeria Underdogs, em Marvila. E a ironia está presente em doses elevadas.
Miguel Januário é o artista convidado da Underdogs para uma série de acções realizadas na cidade. O programa deste espaço consiste em convidar criadores nacionais e estrangeiros para intervirem visualmente na cidade de Lisboa, dentro dos moldes flexíveis da street art. Assim, após intervenções de rua em grande escala sobre paredes, Miguel Januário (ou Mais Menos, como preferirem) apresenta o seu trabalho em paredes fechadas. Sell Out é o título da exposição, que consiste em derivações das suas “disrupções” urbanas, sendo que no dia da inauguração apresentou também uma serigrafia realizada em exclusivo para a Underdogs. A venda desenfreada de tudo o que existe, e do próprio país, a economia em queda, a sociedade e a política do dinheiro em detrimento dos valores, são os temas em que Miguel Januário se baseia, porque, segundo ele, “vende-se tudo. Vende-se humanos. Vende-se a alma e o bom senso. Vende-se, vende-se. Vende-se ideias. Vendes-te. Vende-se dinheiro. Vende-se tudo. Vende-se mais dinheiro. Vende-se tempo. Vende-se a vida inteira. Vende-se o mundo e resto do mundo. Vende-se nada”. É este o manifesto pessimista (ou realista?) do seu projecto actual. Uma denúncia do capitalismo selvagem através da arte aberta às ruas. Já há algum tempo que as paredes de alguns prédios abandonados em Lisboa denunciavam e interrogavam o estado da nação, mas agora tudo é revelado e assumido com mais algumas declarações visuais que usam a palavra como arma. É arte de intervenção.




























