DIÁRIOS DO UMBIGO

  • none

Estávamos em 1999, no decorrer da 5ª edição do festival Super Bock Super Rock. No dia 29 de Junho quase todos os meus conhecidos decidiram ir ouvir os murmúrios depressivos de Tricky ao Coliseu dos Recreios, eu decidi-me pelo concerto de Jimi Tenor na Aula Magna. Jimi e a sua banda são um misto de Soul, Jazz, Disco e House, algo bizarro. Tocaram sobretudo o álbum desse mesmo ano o ORGANISM lançado pela reverenciada editora WARP.

Fiquei na segunda fila da plateia nos confortáveis cadeirões, onde assisti à entrada em palco do Jimi Tenor com a sua capa comprida e escura. Ouvi temas muito agradáveis com o Jimi no piano tais como My Mind, onde ele diz:

"My mind is an open book for ya honey, you can read me as you like
My mind is an open book for ya honey, you can read me as you wish"

Enquanto isto, uma moça de vestido vermelho comprido entrava pelo palco e parecia deslizar na suavidade e sensualidade da música. Serviu bebidas numa bandeja aos músicos. Depois desceu do palco e passeou graciosamente por entre o público. As músicas sucederam-se mas ao soar dos primeiro acordes de Take Me Baby levantei-me e desatei a dançar.

A partir daqui a banda e o seu DJ de serviço, nada mais nada menos do que Maurice Fulton, pareciam ter entrado em delírio. Em palco surgiam não só os instrumentos usuais como toda a espécie de aparelhómetros electrónicos, tais como uma ventoinha com celofanes coloridos da qual aproximavam um microfone e uma caixa que projectava luz e tinha uma manivela.

Tocaram temas como The Year Of The Apocalypse,

fazendo com que me aproximasse do palco e dançasse cada vez mais. O concerto terminou mesmo em apocalipse com o tema Total Devastation:

O Saxofonista já tinha entrado pela sala dentro e andava pelas cadeiras da plateia a tocar. O Maurice Fulton já tocava os discos em pé em cima da mesa, exibindo uma peúga branca enquanto tocava com os pés. Já me sentia rodeado de músicos por todo o lado e nisto Jimi Tenor começa a tocar uma espécie de realejo que em simultâneo lançava luz. E enquanto dava à manivela o seu corpo entrou em êxtase. O delírio instalava-se, os olhos reviravam e em estertores múltiplos colapsou e caiu no palco largando a máquina da manivela. Nisto entra um negro de 1, 93, pelo menos, com uma roupa justa e umas calças douradas, a correr pelo palco em direcção à borda com os seus cabelos de canudos loiros a esvoaçar e lança-se no ar para tentar agarrar a máquina da manivela. Caiu com a cabeça no chão da plateia, e eu pensei: "Queres ver que partiu o pescoço!?" Ele não se mexia apesar de segurar a máquina com as mãos. Como estava a dois metros de mim todo torto decidi perguntar:

Eu: Are you ok?

Ele: Yes. -Lá Respondeu.

Eu: Why did you jump like this?

Ele: I didn't want this machine to get broken, because I have to rebuild it every time it falls.

Eu:  Ok, but you should find a safer method to do that and do not injure yourself.

Entretanto ajudei-o a levantar-se enquanto o concerto terminava. De seguida ainda fui à Capela, no Bairro Alto, partilhar as emoções deste fabuloso concerto.

 facebook.com/nuipidj

ARTIGOS RELACIONADOS

Diários do Umbigo

Newsletter

Subscreva-me para o mantermos actualizado: