Há coisa de um ano, recebi o link para esta música dos Jagwar Ma, Come Save Me, como se de um ramos de flores se tratasse. Sempre achei profundamente empolgante receber presentes em forma de discos (e já nem vou falar em compilações) que reflectiam as minhas escolhas aos olhos de quem dava, que reflectiam quem dava aos meus olhos. Desde que o mp3 ganhou a pole position dos formatos, o acto desmaterializou-se para ganhar uma nova forma, tão excitante como a primeira. Quem não gosta de estar a trabalhar, em viagem, etc, e receber o link de um tema solto via email, via mensagem privada de Facebook e, agora, via Spotify? Eu posso dizer-vos que para mim é dos melhores presentes que posso receber, principalmente, se não conhecer e imediatamente gostar da música (sim, porque não conhecer e não gostar, pode ser a 'morte' do amor).
Mas voltemos ao momento de salvação que foi o da primeira audição de Come Save Me. Apesar de já estar de cabeça meio tombada quando carreguei no play, foram precisos apenas cinco segundos para saber que ele iria correr muitas vezes nas minhas playlists. Tudo o que conseguia reconhecer estava totalmente tingido de elementos vintage de que tanto gosto, elementos esses que me agarravam a cada segundo que passava. Falo da melodia catchy a lembrar os temas feel-good dos Beach Boys misturada com o rock psicadélico que, ainda há pouco, os Tame Impala nos tinham habituado outra vez, e depois a densidade das batidas reverberantes tão 90's, verdadeiras almofadas para os ouvidos, coração e mente. Nada falhava, nem o vídeo. Ao terceiro repeat, não havia dúvidas: faltaria muito pouco para que todos do mundo netaudio português começassem a falar dos Jagwar Ma. Mas, inexplicavelmente, não. Durante quase um ano, lá me deliciei com o que achei que fosse um one-hit que nem a wonder tinha chegado. Até que, há algumas semanas, o vírus de The Throw, novo single dos Jagwar Ma - que é o mesmo que dizer Jono Ma e Gabriel Winterfield, ex-Ghostwood e Valentinos respectivamente - finalmente alastrou e chamou a atenção para a banda australiana.
E não podia ser um melhor sucessor de Come Save Me.
The Throw agarra-nos mal se ouve a perigosa melodia que é impressionantemente angular, e que soa ainda melhor com a repetições intermináveis dos ecos e dos tons psicadélicos da guitarra. A desconcertante entrada do baixo e as batidas à la Happy Mondays quase que nos dão vontade de ir buscar as t-shirts três números acima que se usavam no início dos anos 90. Levam-nos numa viagem que tem tanto de épica como de sublime. E como já nos tinham habituado, os Jagwar Ma fazem do vídeo do tema o remate perfeito para uma deliciosa sessão de hipnotismo.
2013 está já marcado pelos Jagwar Ma, e eu também. Façam eles o que fizerem a seguir, já não há volta a dar: quero comprar umas maracas, vestir umas calças Uniform e dançar como o Bez. Agora, aproveitem, e enviem um destes temas a alguém. Nada como uma trip musical a dois.