Estou perfeitamente convicta que 2013 é um ano que está a ser e continuará a ser salvo pela música. Saber do regresso aos álbuns de originais dos My Bloody Valentine, dos Suede, dos Yeah Yeah Yeah's, dos Primal Scream ou ter bilhetes para os concertos em Portugal dos Blur e dos Queens of the Stone Age é tão reconfortante como ler um horóscopo que nos diz que os nossos assuntos sentimentais prometem desenvolvimentos superiores às expectativas ou que vivemos um período muito favorável financeiramente. Mas se é bom prever coisas boas, ver as previsões optimistas concretizadas é ouro sobre azul. É o que acontece quando ouvimos o novo álbum de Johnny Marr, The Messenger. Conhecido por ser o mítico guitarrista e compositor dos The Smiths só este ano, e passados mais de 25 anos sobre a zanga com Morrissey, Johnny Marr se lança verdadeiramente a solo.
À partida, seria de esperar um grande álbum já que teria selo de 100% qualidade Marr: ele é composto, interpretado, produzido e cantado por um dos maiores e mais influentes alquimistas da pop dos últimos 30 anos. Mas, em última instância, também isso poderia não jogar a seu favor. Mas joga. Sem surpresas, são as contagiosas linhas de guitarras a supercola de The Messenger. Mas os acabamentos e a finesse chegam também através da, agora revelada, voz suave mas assertiva de Marr e pelas letras que são de uma melancolia mais espevitada e suficientemente requintada. Viajando por entre os 12 temas tão brit pop que compõem o álbum, encontramos vislumbres de new wave, shoegaze, garage e pós-punk mas com uma economia de composição tal que só poderia ser de 2013. Quase o exemplo perfeito de que é o conforto familiar do passado que confere a verdadeira originalidade a quem está apontado para o futuro. E com um passado tão rico como o de Marr (não esquecer os The The, Electronic, Modest Mouse ou The Cribs) e a sua postura que nada deve à nostalgia, este seu novo trabalho acaba por ser o local de encontro e transformação de todos os estilos que o guitarrista trabalhou e assimilou em quase 30 anos de carreira. Obrigatórios os dois temas de abertura do álbum, The Right Thing Right e I Want The Heartbeat, duas rajadas de intenção feroz que mostram o que é a essência da música feita sob a Union Jack. Em European Me e New Town Velocity fazemos uma viagem smithsiana. The Messenger, o último singles lançado, está já na categoria de vício em que tenho o chocolate preto.
Na semana em que lhe é oferecido o prémio Godlike Genius pelo NME, só mesmo um génio como Johnny Marr prova que não há idade certa para o Do It ou mesmo o Do It Yourself. Aos 49 anos, recusa calçar as pantufas e, de peito aberto, regressa como o mensageiro da boa nova de que, depois da influência que teve nos grandes compositores dos 90's (Noel Gallagher, Bernard Buttler, etc), ainda tem tudo o que é preciso para influenciar toda uma nova geração de músicos que, como sabemos, bem precisa de mentores deste calibre. Quanto a nós, meros mortais que procuramos encontrar na música o alívio para as nossas maleitas afectivas e efectivas, The Messenger, tal como as medidas tomadas pelo actual Executivo, não resolve mas, ao contrário do segundo, alivia.
What difference does it make? Toda.