João Vilhena, conheci-te no Ar.Co no final dos anos 90 quando fomos colegas no curso avançado de escultura. Retenho na minha memória várias das tuas apresentações nas sessões de avaliação crítica e nas exposições. Já na altura destacavas-te pela qualidade dos teus projectos, postura ética no trabalho e na forma como lidavas connosco, teus colegas. Desafio-te para uma conversa sobre algumas ideias que me passam pela cabeça.
Fizemos a transição do seculo XX para o seculo XXI como estudantes de artes visuais no Ar.Co dito assim soa a algo de grandioso, o que podes dizer sobre isto?
Surpreendentemente estamos vivos.
É interessante saber que chegaste a pensar ser médico, o que sucedeu com essa ideia?
Ficou pela minha passagem no ano zero de medicina na Universidade de East Anglia no Reino Unido. Não era outra vez a altura.
Também viveste nos Estados Unidos, o American Dream marcou-te de que forma?
A meritocracia é essencial para uma democracia. Doutra forma vivemos o sonho dos outros.
Nova Iorque ou Los Angeles, onde me levarias ?
Los Angeles. A realidade é uma ficção.
Tal como todos nós, fizeste amigos que se mantém até hoje, mas no teu caso alguns dos teus amigos são artistas contemporâneos conhecidos e admirados a nível mundial. Isto possibilita-te ter uma noção mais desmistificada da fama e do sucesso?
Cresci com o fenómeno do sucesso em pessoas ao meu redor e sempre me pareceu que a realidade era esta sim, uma construção. Conhecer pessoas que carinhosamente admiramos profissionalmente e que se tornam ainda amigos é um privilégio que me esforço por merecer. Somos todos pessoas.
Destas pessoas podes falar de alguém que te tenha influenciado de uma forma única e especial?
Claes Oldenburg. Deu-me os mais sensatos conselhos sobre o meu trabalho e carreira. E Coosje Van Bruggen sobre o registo da obra de um artista.
Na minha opinião, e entre os artistas que me são mais próximos, estás bastante presente nas redes sociais. Estive na tua ultima exposição que decorreu na Galeria Luis Serpa no ano passado, e fiquei com esta ideia de que não são as redes sociais que têm o teu trabalho mas o teu trabalho que tem em si as redes sociais. Isto pode ser uma afirmação acertada?
No caso concreto da exposição que fiz para o Luis Serpa, comissariada por António Cerveira Pinto, os trabalhos haviam sido apresentados noutra versão, ao ritmo diário durante cerca de cinco meses antes, nas redes sociais (facebook, Tumblr, Instagram, Twitter). O António seleccionou 32 trabalhos para a exposição. Foi interessante confirmar que o virtual nada tem a ver com o real e que a percepção de ecrã a que somos sujeitos diariamente na net pode provocar a banalização da imagem e a sua desvalorização. No caso concreto essa banalização foi centrada em auto-retratos feitos com uma “app” e um iphone recriados a partir de obras clássicas da pintura.
Estás entre o ter e o ser, ou optas por um extremo?
Sou.
És muito disciplinado com o corpo e o teu bem estar. Ginásio diariamente, alimentação saudável, noites bem dormidas, praia e ar fresco fazem-te produzir melhor?
“Mens sana in corpore sano.” Juvenal e John Locke têm razão.
João, como é que chegamos até aqui e ninguém nos parou?
Não sei querida Natércia, mas é tarde demais para pensar. Vamos é continuar a trabalhar.
Existem sempre novos projectos, o que se segue?
Algumas colectivas por Espanha, Itália, Estados Unidos e grandes projectos claro para Portugal até 2016. Depois talvez me reforme.
Vamos mas é comer qualquer coisinha?
O ceviche que tinhas falado, onde?