As folhas podes rasgá-las, afinal os meses passam e elas estão lá para isso. O tempo e a sua passagem são implacáveis, tal como as vontades indômitas, prolongar o que não se deseja apagar: um gelado em dia de inverno, a t-shirt de manga curta que se teima em não arrumar, as raquetes de praia ou o guarda-sol na mala do carro, pelo secreto desejo de passear ao sol e ler ao relento das vagas. Em Outubro passado acrescentamos mais um, o novo trabalho de Los Waves – This is Los Waves So What?. Em viagem, sem medo de saltar a sintonia da rádio local ou falta de bateria no iPod é companhia prazenteira para momentos despreocupados onde horas e minutos não são limite, antes sucessão contínua de aquis e agoras dedicados a contemplação errante e devaneios vários. Juventude tardia? E porque não? Ou parafraseando os próprios – So What? Quem é que nalgum momento a deseja perder?
Temas como o já bem conhecido Get a Feeling, o orelhudo Your World ou o How do I Know colocam-nos no meio de tarde de Verão, nos dias de rima simples e despreocupada, que apetece trautear enquanto sacodes a areia ou te preparas para o desafio do último mergulho. Nem toda a música tem de ser demonstração de virtuosismo técnico, procura de estruturas compositivas altamente elaboradas ou com conteúdo político vincado, mesmo que assumam um carácter festivo e colorido como Bella Ciao. O primeiro trabalho desta banda das Caldas da Rainha decididamente aponta noutras direcções: canções simples, ritmadas, de refrão facilmente apropriável e letras que não te envergonharias de segredar à tua namorada – “I wanna do it by your side / Into a future made of light / I wanna do it by your side.” (Golden Maps). Ou então perder a timidez, deixar a melhor companheira de sempre para dançar, com uma garrafa de mini na mão todos são Fred Astaire, e encontrar parceira que te ensine a mexer braços e anca, mesmo que ao princípio diga que lhe doem os pés ou os tem demasiado largos. José Tornada e Jorge da Fonseca têm esta capacidade, duvidamos que inata, de dar uma tonalidade mais aberta, um apontamento mais colorido a músicas que associamos, pelo título, inevitavelmente ao casaco comprido e negro e ao tom depressivo de Peter Murphy (A Strange Kind of Love). São também capazes de tornar os momentos um pouco mais adocicados (Still Kind of Strange How Days Won´t Go By, a concorrer com Noiserv pelo título mais comprido para uma música) ou aprimorá-los com tons mais roqueiros como em Jupiter Blues.
Trabalho que decididamente nunca deveremos tirar do porta-luvas, ou em alternativa obrigar-nos a estacionar já hoje (dia 13) em frente ao Sabotage Club (Lisboa), amanhã nos Maus Hábitos (Porto) e no Sábado no Texas Bar (Leiria), para acompanhar início de tournée. Afinal o Verão pode ser destino.