Fotografias: Alexandre Antunes / Everything is New.
Depois do cancelamento do concerto de Cascais, Morrissey regressou ao nosso país para concerto único aguardado com expectativa pelos numerosos fãs portugueses e com álbum novo na bagagem.
Sentia-se o entusiasmo do público e adivinhava-se uma grande noite. Morrissey correspondeu? Não desiludiu mas faltou algo para o concerto ter sido verdadeiramente memorável. E até arrancou bem com o clássico The Queen is Dead dos Smiths, canção ácida e corrosiva que, passado todos estes anos, continua viciante, em vigorosa interpretação que de imediato evidenciou uma banda bem oleada e eficaz. Músicos e público em perfeita comunhão logo no arranque, portanto.
Mas a euforia resfriou um pouco logo depois, com o desfile das canções do novo álbum World Peace is Not Your Business, talvez porque boa parte do público ainda não está familiarizado com as composições mais recentes, mas tambem é evidente que não é o material mais inspirado da já longa carreira do músico britanico.
Das novas canções, destaca-se a beleza pungente de I´m Not Your Man e o apelo pop sedutor de The Bullfighter Dies. O som da banda é potente e grandioso, por vezes até demais, com algumas canções a soarem em tons épicos, com arranjos por vezes excessivamente imponentes. Mas a entrega e competência destes músicos não deixa de ser impressionante. E há aquela voz. O homem continua a cantar maravilhosamente bem, bela voz cheia de emoção que continua a aquecer muitos corações, no seu tom grave e envolvente.
"And now because we must" disse Morrissey à audiência, iniciando a passagem por alguns clássicos dos muito amados Smiths. Hand In Glove soa segura, escorreita e irresistível. Meat Is Murder, um dos momentos mais fortes do concerto, soa dramática e poderosa, acompanhada de incómodas imagens de animais a serem mortos em matadouros. Uma velha causa de Morrissey, na qual continua absolutamente empenhado, sugerindo aos presentes actos de vandalismo nos restaurantes da MC Donald´s. E, já em encore, a beleza serena de Asleep, apenas aquela voz e piano, num dos momentos mais tocantes da noite.
Pelo meio, já a familia real tinha sido ridicularizada com um sentido de humor tipicamente britânico. Hilariante foi também ver todos os músicos, com excepção de Morrissey, com t-shirts onde se lia fuck harvest, referência à editora que despediu Morrissey.
O rei do indie rock britânico despe a camisa e atira-a aos fãs após cantar o último tema da noite The First Of The Gang to Die. Foi o Morrissey de sempre: eterno romântico, melancólico e glamoroso, num concerto em que cumpriu, mas sem deslumbrar.