Um destes dias, a caminho de casa com a minha amiga Madalena, ela dizia-me que ia começar a fazer uns pequenos-almoços diferentes que incluíam banana, entre outros frutos. A Mada (como lhe chamo), não precisa para nada de beber “sucos verdes”. A Mada nem nunca se preocupou com o que come ou deixa de comer. A Mada tem um rabo óptimo e uma barriga de fazer inveja a qualquer pita de 18 anos. Ela ter referido a sua preocupação com a alimentação não me aquece nem arrefece, uma vez que sei que há vida nela para além desta preocupação. E também sei que amanhã o café com leite e o pão estão, certinhos direitinhos, na mesa do pequeno almoço. Em indo para a frente com esta sua decisão, aplaudia porque só lhe faz bem e o seu interior conheço-o bem, está vivo, vivíssimo, e recomenda-se. Mas isto é o da Mada.
A verdade e as imensas consequências, é que temos vindo a assistir a uma histeria desmedida com a alimentação, com o corpo, com a aparência, o que, convenhamos, seria espectacular, se o mesmo se aplicasse à cabeça, mente e espírito. Das anormalidades de, desculpem-me, merda que muitas vezes assistimos que são os carrinhos de supermercado das pessoas, às anorexias nervosas, esta noção de que o nosso corpo é um templo e tudo o que metemos cá dentro deve ser, pelo menos, reflectido, é maravilhoso. A parte que questiono é que, a par desta preocupação excessiva com o exterior, há toda uma parte interior que se encontra cada vez mais esquecida. É verdade, o ser bonito por dentro e por fora, deu lugar ao ser bonito por fora, ponto.
Anda tudo tão focado com a sua aparência, com o prato de salada perfeito para o instagram, ou com os abdominais no ginásio em formato de tablete de chocolate, que nos esquecemos completamente de quem somos e do que andamos aqui a fazer. Anda tudo lindo e magro e triste e deprimido e infeliz e louco e confuso. O desequilíbrio completo e total instaladíssmo. Contra mim falo que vivo da moda – uma das, senão a, indústria mais umbiguista (tantas vezes fútil) de sempre. Mas garantidamente, o (meu pelo menos) exercício interior é uma constante, seja em forma de aulas de yoga, de meditação, de oração, de dificuldades que me fazem pensar e repensar na vida, entre outras “técnicas” que não são para aqui chamadas, mas que, graças a Deus, me relembram constantemente que mais que gira e magra, eu quero ser um ser humano melhor. Uma excelente mãe, uma óptima filha, uma irmã presente e uma amiga fiel. E quero viver em paz, com ou sem suco verde ao pequeno-almoço.
Esta crónica teria acabado na linha acima, mas, nem por acaso, acabo de ler um artigo no Público que cita o seguinte: “Meditar, sonhar acordado ou fazer introspecção durante alguns minutos, sem fazer mais nada, é algo difícil para a maior parte das pessoas, conclui um estudo norte-americano. Segundo os seus autores, a mania dos ecrãs seria disso uma consequência e não uma causa.
Várias experiências realizadas por psicólogos das universidades da Virgínia e de Harvard (ambas nos EUA), e cujos resultados foram publicados na revista Science, sugerem que a maior parte das pessoas prefere antes desenvolver uma actividade qualquer – que até pode consistir em se auto-aplicar ligeiros choques eléctricos – do que ficar a sós com os seus pensamentos.”.
E pronto. Acho que ficou tudo explicado.