Durante alguns anos, em Lisboa, existiu um circuito alternativo muito interessante para quem gostava de sair à noite e dançar. Começava no Frágil, no Bairro Alto, onde só se entrava se a Margarida Martins nos desse um Abraço. Depois descia ao Indústria, ali na Rua do Instituto Industrial, para dançar ao som do Tó Ricciardi ou do Alcides. E logo rumava ao Kremlin, em Santos, para ouvir o Tó Pereira. No Kremlin encontrava-se toda a gente que trabalhava à noite, o ambiente era sempre festivo e colorido. Ali quase tudo era permitido, pois não havia grandes restrições, e a fauna urbana celebrava. O ritmo ia subindo ao longo da noite, os corpos iam-se soltando e os espíritos libertavam-se. Mas, muitas vezes sem se esperar, tal não era a concentração na dança, ficava-se a pairar num suspiro contido. O beat tinha decrescido substancialmente e surgia uma música que nos trazia já um misto de nostalgia e saudade daqueles momentos. O coração, que batia apressado, começava a serenar, pois o conforto e aconchego chegavam nesta melodia que, ao mesmo tempo, deixava um travo amargo. Era como se fosse ali que se pretendia chegar, deliciado e satisfeito mas ao mesmo tempo a querer mais. Moments In Love dos Art of Noise marcava o fim da festa no Kremlin. Para alguns significava ir para casa enquanto para os mais animados significava continuar para o Alcântara Mar.
“DON’T BE AFRAID” of love é a mensagem que nos deixa o vídeo do tema.
