A “eterna brigada da azediçe nacional” urra de raiva, destila fel. É o dia dos namorados. Que horror! Que pirosice! Que cena comercial! Que que que que se lixe, este ano comemorei, pela primeira vez, e fiz com júbilo, pompa e circunstância. Tal como a minha namorada, igualdade de circunstâncias, cumplicidade nas pequenas e grandes coisas. Esta até é pequena coisa tendo em conta que é só mais um dia que inventaram, com o intuito comercial e em que de facto se fazem coisas pirosas, algumas até envolvem ursos. Mas o pior são os ursos machos e fémeas que comemoram neste dia algo que deverá ser comemorado todos os dias (oh não! um cliché! Odeio clichés!!!) e é observá-los nos restaurantes à noite a cumprirem a agenda. Ursos. Saímos de casa, como costumamos sair às vezes durante a semana, saímos de casa elegantemente vestidos como sempre, e vamos pela primeira vez na nossa vida não comemorar o dia dos namorados mas comemorar mais um dia em que estamos enamorados.
E saímos ao improviso, neófitos e naifes. Tudo cheio, a transbordar de namorados, reservas feitas, pratos especiais, ofertas, chocolates, flores, ursos de peluche a ganharem donas, e quiçá donos. Alimentar um urso fica caro nesta época do urso Passos e da grande ursa Merkel. A zona do Cais do Sodré oferece mais oportunidades, e tentamos logo à primeira o simpático e discretamente bonito Café Tati. Mesas ocupadas, pessoas de pé. Mas a sorte protege os audazes, especialmente os audazes enamorados, e dizem-nos que vai vagar uma mesa, e esperamos lá fora ao frio de Fevereiro com um copo de vinho na mão e os corações quentes. Olhares, toques, conversa, cumplicidade, enamorados, desde o primeiro encontro, e até antes. “Oh, lamento mas isso acabou”… “também acabou faz uns minutos”… sentados já estávamos, mas esfomeados também. Acabam por vir uns ovos com farinheira e umas batatas com bacalhau de entrada e arrematada a refeição com um semifrio. Tudo delicioso como a companhia, parceira do improviso nocturno e da vida. E seguimos para o Harlem, bar-restaurante novo ali no Cais. O nome Harlem; Jazz, Soul and Lifestyle já por si é um manifesto e pote de mel para mim, urso que se lambuza em Jazz. Simpatia e elegância, som Soul ambiente, arranjam-nos uma mesa, só para uma bebida, e bebemos. Bebemo-nos. Carlos, homem da casa, apercebe-se do meu pin “Hard Bop jazz”. Estamos no Harlem do Sodré. Estamos juntos. Enamorados.