Íamos ver “Design for Living” de Noel Coward na Comuna, na imensa Praça de Espanha. Ficou combinado. Íamos, eu e ela. E ele? Ele quem? O outro. Ele não. O suposto namorado. Nem sei se soube disto. Mas quem o mandou chamar-se Evaristo? Dois rapazes e uma rapariga, um trio amoroso, como na peça. Amoroso não, nem sei se ela gostou mesmo de mim (mas desconfio que sim). Ele nem teve hipótese de gostar de mim, nem me conheceu. No entanto por motivos que só ao diabo lembra na peça uma das personagens chama-se… Leo. Só podia ser uma piada, só podia. E o Leo é dramaturgo. Uma piada, só podia. A piada na peça e da vida real.
Ela diz que gosta do Evaristo, no entanto ia comigo ao teatro. Tudo bem, tudo certo. Ou tudo errado. Eu gostava dela, pelo menos estava apaixonado, até pensei no delírio dos apaixonados que eu seria o tal de Evaristo. Ma afinal existia um Evaristo e não era eu que sou Leo. Os delírios dos apaixonados e as suas interpretações erradas de sinais amorosos. Más traduções. Os homens são maus tradutores? Estaria o meu descodificador de mensagens cifradas tão desafinado? Ou seria o famoso teatro feminino? Drama que se torna comédia, como a peça, pois quem ia com ela ao teatro era eu e não ele, o Evaristo. Tropecei no palco mas não caí. Aceitei o jogo. I play the game. Actuo, no palco da vida, mas agora faço a jogada. Sem sinais, tudo preto no branco e branco no preto como os meus sapatos. Xeque mate? Talvez, pois afinal subitamente lancei os dados e saí de cena, como personagem principal, que é o que sempre somos quando dominamos as nossas acções. Foi “Design for Living” é certo. Saída elegante e airosa. Só deu para rir, era uma comédia. Ó Evaristo! Tens cá disto?