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 e a pintura ligada à escultura e à performance.

Lucio Fontana é considerado, por muitos teóricos, como um dos renovadores da linguagem visual do século XX e responsável pela conquista de novas liberdades compositivas na arte. Este artista realça a importância do conceito sobre a execução do objecto artístico e para ele, um único acto de perfuração ou incisão da tela (como acontece na série Concetto Spaziale, concretizada entre 1961 e 1963) seria suficiente para tentar resolver as questões das quais pretendia que o seu trabalho se debruçasse. Assim, pode dizer-se que Fontana procurou conferir à pintura, caraterísticas corpóreas, sendo que a superfície da tela simbolizasse a epiderme e a ação do artista (o corte), a ferida.

Em 1946, Lucio publicou na Argentina o Manifesto Branco onde defendeu que a arte se deveria assumir como uma disciplina capaz de se libertar da herança do Renascimento, sendo que uma parte desta era a criação da noção de profundidade através da perspetiva. E, nesta ordem, o artista ao provocar a abertura física da superfície da pintura (ou da tela) ilustra a sua busca incessante de uma nova noção de perspetiva e, por consequência, uma inovadora comunicação entre o espaço ocupado pelo observador e o espaço pictórico. Por outro lado, é preciso ter em conta que apesar de este conjunto de obras em questão ser considerado um agrupado de pinturas, para o artista representavam contudo, uma nova forma de fazer escultura pois estas telas não se resumiam apenas ao cómodo ato de pintar; representavam elas mesmas também a transcendência da atitude do artista perante a arte, estabelecendo-se quase como um momento de comunicação entre artista e tela e vice-versa.

Pode dizer-se que a principal contribuição do movimento de Fontana foi o alargamento do entendimento da tela e da sua superfície enquanto campo de representação, superando a bidimensionalidade. Para o artista, a figura (ou o que supostamente está representado), não funciona mais como figura central da própria ação, mas sim o suporte, ou seja, neste caso, a própria tela. Logo, existem duas ideias a reter: em primeira instância, o artista ao criar uma obra deste género tem que ter antes de mais consciência daquilo que é a obra de arte enquanto definição material e palpável (ou seja, tinta e tela) para que, a posteriori surja o desejo de a transformar numa outra coisa. Em segundo lugar, deve perceber-se que o espetador ao deparar-se com uma obra deste tipo, é levado automaticamente a tentar descobrir o que se encontrará para além da tela, uma vez que o seu olhar recai desde logo nas incisões do suporte. Nesta ordem, é possível concluir que o trabalho de Lúcio Fontana investiga sobretudo a questão do suporte da pintura.

O artista para além de ter construído uma obra baseada no gesto como tensão e na interminável procura de um absoluto, (onde o espaço pictórico e o lugar do observador existem em congruência, e onde a tela não se admite como uma porta de acesso limitado ao que ali pretende ser representado) introduz ainda uma sublime relação entre a pintura, a escultura e ainda a performance porque a tela procura alcançar caraterísticas associadas a objetos tridimensionais, sendo que estas só possam ser conferidas pelo acto performativo do artista quando rasga a própria obra.

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