Ivan Serpa (1923-1973) iniciou seus estudos de pintura, gravura e desenho com Axl Leskoschek, no Rio de Janeiro em 1947. No decorrer de sua carreira mudou frequentemente de estilo, facto que inquietou a crítica especializada da época. Experimentou o Concretismo, o Informalismo, a arte Óptico-cinética e o Expressionismo. Trabalhou na secção de restauração de livros raros na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e foi professor de arte no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro durante vinte anos, onde formou alunos como Hélio Oiticica, Aloysio Carvão, Waltércio Caldas, entre outros. Participou em exposições que revelaram a vanguarda no Brasil, como a Opinião 65 e a Nova Objetividade Brasileira (1967). Figurou na I Bienal de São Paulo em 1951 e em edições subsequentes, nas 26ª, 27ª, 31ª e 33ª edições da Bienal de Veneza e em exposições colectivas e individuais na América Latina, Europa e Estados Unidos. Serpa ganhou prémios importantes, entre eles o Prémio Viagem ao Estrangeiro do Salão Nacional de Arte Moderna, que possibilitou dois anos de estudos na Europa.
O contacto com a vanguarda construtiva suíça, representada por Max Bill, Hans Arp e Sophie Tauber-Arp durante a I Bienal de São Paulo reforçou a convicção de Ivan Serpa nesta poética. A sua obra Formas ganhou o Prémio Jovem Pintor Nacional ao mesmo tempo em que Unidade Tripartida de Max Bill recebia o prémio de escultura. Este facto impulsionou o movimento concretista no Brasil, que contava com o apoio do crítico de arte Mário Pedrosa. O concretismo sugeria uma arte não metafórica e desvinculada de regionalismos, com ênfase na pureza das formas geométricas, neutras e objectivas. Em 1954, Serpa fundou e liderou o Grupo Frente no Rio de Janeiro, que desenvolveu juntamente com o Grupo Ruptura de São Paulo, debates sobre a teoria e a função da arte abstracta e concreta.
Da sua fase concretista, destaco a premiada obra Formas (1951), que revela a experimentação e a ruptura do artista com o espaço plástico tradicional. O artista propôs a reconciliação de duas formas elementares, rectângulo e círculo, e as cores funcionam como elemento divisor do espaço. A simplicidade e o equilíbrio, a clareza de tons e formas mostram o sentido de organização do espaço. Outra obra marcante desse período é Construção No. 75 (1955), que mostra a evolução do concretismo no plano técnico e experimental. Serpa utilizou a colagem num processo que consistia na sobreposição de formas recortadas de papel de seda colorido fino, transparente ou opaco, permeados com celulose e submetidos à compressão. Esta técnica foi desenvolvida a partir da experiência do artista como restaurador de livros. Na obra Sem título (1953), feita com esmalte sintético sobre chapa aglomerada, os elementos principais são os ritmos bidimensionais criados na repetição de formas geométricas semelhantes. Neste processo, Serpa criou um sistema de medidas matemáticas em que a repetição das formas figurasse como estrutura. Faixas formadas por triângulos e rectângulos exploram cadência rítmica entre os espaços, densidade e brilho, opacidade e transparência. As cores funcionam como irradiação luminosa, um fenómeno objectivo, e não como meio de construção simbólica.
Formas, 1951
Óleo sobre tela, 97 x 130,2cm
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP)
Construção nº 75, 1955
Colagem sob calor e pressão e guache sobre cartão, 45 x 35cm
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP)
Sem título, 1953
Esmalte sintético sobre chapa aglomerada, 122 x 90cm
Coleção João Satamini, comodante Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ)