DIÁRIOS DO UMBIGO

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Sempre invejei as aves por conseguirem alcançar tão facilmente o céu. A facilidade com que deixam o mundo e tudo mais para trás, lançando-se no desconhecido num piscar de olhos.

Sinto-me triste e ainda mais terrestre quando me deparo com um corpo inanimado no chão, as penas despidas de propósito e as asas firmemente ancoradas no pavimento. É um fim indigno para quem chegou a ver o mundo lá de cima, como os deuses do Olimpo de outrora.

Às vezes até sinto pena das borboletas caídas, com as suas brilhantes e frágeis cores, que desceram à terra com calor do calor do Verão, como se tivessem sido companheiras de Ícaro na sua jornada ao Rei Sol. Passo por elas com a reverência devida. Está fora de questão tocar-lhes, pois ainda não o mereci.

Talvez um dia.

Não sei se é normal este luto pelos bichos com asas que encontro pelo chão, mas é verdadeiro. Nós, presos à terra pela nossa massa e pelo peso dos nossos pecados e dos pecados dos nossos antepassados, à muito que perdemos as nossas asas. Quando olhamos para baixo apenas vemos os nossos limites. Um pássaro quando olha para baixo vê tudo, o antes o depois e o agora.

Por isso respeito as aves, e as borboletas e todos os seres alados que vejo prostrados no chão. Foram muito mais do que alguma vez serei.

Livre.

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