Um Projecto de Pedra (e cal)
Arte, Ciência e o Inconsciente Tecnológico, mote para o programa European Soft Control, no qual Portugal participa com Technical Unconscious – a cultural project by FBAUP, com coordenação do Arqueólogo Gonçalo Leite Velho e curadoria da Arquitecta Inês Moreira.
Um projecto multidisciplinar extremamente ambicioso quer na dinâmica de rede entre Faculdades, Investigadores, Artistas convidados, áreas disciplinares e parceiros estratégicos, quer na dimensão cultural a que se propõe a partir da reactivação do espaço da Cooperativa dos Operários Pedreiros do Porto, que comemora este ano o seu centenário. Criando um diálogo entre o trabalho artístico e laboratorial com a população desta cooperativa e o público que assim conhece parte da história da cidade do Porto, assistimos a um louvável esforço de uma investigação não hermética e ousada por contrariar uma perspectiva “high-teck” do tema, dando a conhecer um domínio muito mais analógico da técnica.
O trabalho artístico desenvolvido ao longo deste projecto revela-nos processos, técnicas, instrumentalizações, ferramentas e um conjunto de elementos de arquivo que nos evidenciam, passo a passo, a actividade da Cooperativa que está tão presente na cidade do Porto com a construção de imponentes obras públicas do século XX, como é o caso da Estação de São Bento, o Edifício da Câmara Municipal ou a Avenida dos Aliados, bem como de importantes equipamentos privados ou até mesmo significativos edifícios de habitação. Há em todo este trabalho um olhar atento sobre a história e o desenvolvimento da cidade do Porto, bem como um elogio ao gesto aqui desenvolvido nesta actividade e que dá tanta expressão à Arquitectura local.
A anteceder a exposição actualmente presente no edifício mãe da Cooperativa de Pedreiros existiram duas fases de residências artísticas: um programa de residências longas, onde se abriram as portas dos espaços da Cooperativa e do conhecimento da sua história e produção, e períodos de artistas instalados neste espaço durante três semanas, onde individualmente ou em parceria desenvolveram propostas in-situ. Deste trabalho resultaram também artist talks, workshops, performances e visitas guidas que foram antevendo as leituras e obras actualmente em exposição.
Num trabalho curatorial desenvolvido desde 2013, para além do resultado da especificidade de cada projecto aqui apresentado, onde há lugar para análises que vão desde um olhar sobre o local como é exemplo o trabalho fotográfico de Daniele Sambo, à dimensão de Inconsciente trabalhada em propostas como a do artista John Grzinich, à noção de arquivo e memória como revela o trabalho de Cora Piantonni ou a uma perspectiva sobre trabalho manual presente na artista Linda Brothwell, há também ao longo do percurso expositivo um discurso revelador de um edifício que abre as portas ao público com o enaltecer das especificidades do trabalho dos seus principais espaços: sala de desenho, auditório, carpintaria, serração, oficina e museu.
A pluralidade de discursos, de níveis de ensino e de áreas de conhecimento a que este trabalho consegue chegar, merece toda a atenção sobre o ponto de vista curatorial e científico, bem como deve originar uma reflexão atenta de como programas como este só conseguem acontecer na actualidade a partir de um financiamento vindo do exterior.
Deste trabalho, que fecha as portas ao público amanhã, esperam-se registos, reflexões, novos olhares e continuidade aos tantos caminhos multidisciplinares que aqui foram criados.