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Vitor Reis não é um artista recente mas é um ceramista recente.

Mas um ceramista não é um artista? Claro que é, e por isso mesmo Vitor juntou os seus desejos e delírios artisticos à volta de peças de cerâmica, onde concentra todo o seu humor que é coisa pouca vista nas artes deste Portugal. Vitor poderia trocar urinóis com Marcel Duchamp e ainda lhe ofereceria uma bosta dourada com asinhas, ah pois! Se Duchamp é o culpado celebremos Vitor Reis!

Vítor, vens de escultura segundo percebi. É essa a tua formação em artes?

Sim, tirei artes plásticas em Caldas da Rainha, com incidência na área de escultura. Na altura em que tirei o curso, este dividia-se bastante entre a vertente mais técnica e a conceptual, facto que penso ter marcado bastante o meu trabalho.

Também vens de uma zona com tradição em cerâmica, Caldas da Rainha, isso teve alguma influência?

Ao contrário do que possa parecer, penso que não. Curiosamente a minha família descende de oleiros tradicionais: já o meu trizavó era oleiro, o meu bizavô também, assim como o meu avô e ambos os tios do lado do meu pai. Agora também eu e o meu irmão trabalhamos com cerâmica. Apesar disso, a cerâmica nunca me interessou muito, e só recentemente me começou realmente a fascinar enquanto possibilidade de expressão.

O que te influência, o que te inspira quando trabalhas em cerâmica? Tens referências nesse campo?

A questão da “inspiração” é sempre um bocado complexa, se partir desse pressuposto, eu diria que tudo me inspira. Os trabalhos são sempre o resultado da minha relação com o exterior – “eu e o mundo”. Depois, como qualquer outra pessoa, tenho características mais vincadas que outras, que vão pronunciar as coisas que me interessam mais. Normalmente quando existe algo em que fico a pensar durante algum tempo e me desassossega por alguma razão, sinto necessidade de a partilhar. Um trabalho é normalmente isso – a partilha de uma ideia.

Quando vi a primeira vez o teu trabalho não só fez-me lembrar algo do humor absurdo dadaista e surrealista como, e talvez por isso mesmo, algo de novo na cerâmica feita em Portugal. Concordas?

Na cerâmica penso que sim, nas artes plásticas existe alguma coisa mas mesmo assim muito pouco, o que é para mim uma pena. Acho que o humor ainda não é muito aceite em Portugal, a meu ver porque é algo que pode desapaziguar, e somos ainda um país de águas muito mornas.

Existem "tendências" ou "grupinhos" na cerâmica em Portugal?

(Sugestão – reformula-se a pergunta – ex: se existem “tribos” ou grupos com clichés no ramo da cerâmica ?)

Existir penso que existam, na cerâmica, e em qualquer outra área. Quando trabalhamos numa determinada área ou contexto temos a ideia que o único “lugar” onde isso acontece é onde estamos. Mas ao mudarmos de área, vamos perceber que existe exactamente o mesmo. Penso que seja um factor que tem ver com “o humano”. Obviamente os “tiques” e as tendências mudam de área para área, mas penso que o que os alimenta, é exactamente o mesmo, e tem que ver com características nossas enquanto “animal social”. Penso que no caso de isso prejudicar (e prejudica muitas vezes), o melhor é “fazer o que temos que fazer”, e olhar sempre para dentro. Porque assim, mesmo que o sucesso social não se realize, teremos sempre a recompensa do sucesso pessoal.

Denoto também algo de Pop nos teus trabalhos e também na tua abordagem, menos "hermética" e mais "acessível", concordas?

É possível, em relação á abordagem dos trabalhos, penso que tenham realmente um primeiro plano mais acessível, de leitura fácil e directa, o que é para mim importante. De qualquer maneira penso, e espero, que haja outros patamares de apreensão, talvez até mais constatáveis numa “visão mais aérea” do conjunto.

A Bosta dourada e com asas é só uma bosta dourada com asas ou algo mais?

A Bosta dourada é essencialmente aquilo que as pessoas quiserem que seja, assim como a maioria dos meus trabalhos. Dar espaço de liberdade é também uma tendência essencial e assumida nas peças que faço. Não acredito em verdades absolutas na representação. Os objectos podem ser muitas coisas dependentemente de quem os vê, e das circunstâncias em que são vistos. A maneira como as pessoas apreendem os objectos pode ser ainda mais irónica ou absurda que os próprios objectos. Penso que essa peça seja já por sim muitas coisas: é uma bosta, tem asas e é dourada – são já três elementos, e partindo até da ideia de Marcel Ducham, no número três começa o infinito…

Exposições que tenhas feito e locais onde se possa comprar os teus trabalhos?

As exposições que tenho feito têm sido essencialmente na área das artes plásticas. A cerâmica é um “assunto” relativamente novo. As exposições que fiz foram: no espaço da Nau nas Caldas da Rainha, na Associação a)))9 em Leiria, e mais recentemente no Centro de Artes nas Caldas da Rainha. E as peças podem ser vistas e adquiridas em Lisboa na: Galeria da editora Abysmo, na Arte Assinada, e na Portugal Modernista. Nas Caldas da Rainha tenho peças: no Centro Cultural de Congressos e na Associação Nau.

E planos para curto e médio prazo, podemos saber?

A curto prazo os planos são trabalhar muito, para médio prazo também. Gostava de cada vez mais conseguir trabalhar em colaboração com outras pessoas, marcas ou Instituições - é uma das coisas que gosto mais de fazer. Penso que o trabalho ganhe elasticidade e permeabilidade ao ser confrontado com novas situações, para além disso ganha também um carácter mais social, que penso ser importante.

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