Ser mulher não é tarefa fácil, e a coisa começa logo com um dia de vida. Aliás, com menos nove meses. Assim que é revelado o sexo – é uma rapariga! – todo um destino de obrigações é imediatamente traçado, como por exemplo, a cor rosa como pano de fundo – da roupa do quarto da casa. Uma realidade passageira, pois rapidamente o ciclo tratará de mostrar que a vida, no feminino, de rosa tem pouco. Ser mulher acarreta consigo um sem número de obrigações que me fazem questionar: onde estão as nossas bolas?

Para se ser uma grande mulher, tem-se antes de ser e ter muita coisa. Tem de se ser boa mãe, boa esposa, boa amiga, boa profissional, boa na cama, boa na cozinha, ter bom feitio, boa cara, bom corpo,  boas unhas, bom cabelo, boa pele, bons genes, boa disposição. E, já agora, ter muita paciência.

Para se ser um grande homem, pode-se ser pequeno. Porque os homens não se medem aos palmos. Pode-se cozinhar bem, e aí é uma cereja no topo do bolo, mas se cozinhar mal não tem importância. Pode-se ter uma grande carreira, mas se for um pé rapado, é porque é artista e espiritual e adora-se isso. Se o homem for careca, é charme. Se tiver cabelos brancos, é charme. Se tiver barriga, é charme. Se tiver mau feitio, é feitio. Se for perfeito é chato.

Os homens têm a bola no campo, e as bolas em si para sustentar e desculpar todo e qualquer problema. Nós temos umas bolas, que nem sempre têm o tamanho desejado e que até nelas está depositada uma enorme pressão. Não podem mexer. Têm de se manter intactas, quietas e sossegadas. À mais leve das descaídas, lá vem a tal pressão e quiçá o cirurgião de faca na mão.

Ser mulher não é uma tarefa fácil e na falta de bolas vêm todas as outras coisas, a que muitos apelidam de futilidades, que tornam o cargo de ser mulher, em algo maravilhoso. Isto tudo para dizer que aquelas compras que fiz, e não devia ter feito porque os tempos – e a carteira – não estão para isso, estão mais que desculpadas. Fiquem lá com as bolas que nós é mais bolos.