A conversa flui. Não poderia ser de outra forma.
Pego na Vespa. Objectivo definido, trajecto nem por isso. Beira Tejo seguida de incursão pela colina de São Vicente. Estaciono à porta do Mercado de Santra Clara. Entro em loja exclusiva. Exclusiva na elegância, na audácia subjacente ao conceito. A Portugal Modernista. Encontro-me com a Ana Pardete e o Leo Leonel. Visita guiada pelo espaço e chamada de atenção para as peças dos diferentes autores nacionais. As pregadeiras, os pins, os postais, os sacos, t-shirts e soqueira. Pelo brilhantismo e estilo das mesmas a merecer incursão assídua. Fecha-se a porta.
A conversa flui. Não poderia ser de outra forma.
Descemos a rua. Esplanada do Clara Clara. Pergunto pelas inspirações, a razão de se sentirem atraídos pelos modernistas. Sub-repticiamente tento conduzir a conversa. Referências ao dadaísmo, construtivismo russo, futurismo, surrealismo. Em território nacional - Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso e Santa-Rita; Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. De repente Ama Romanta, João Peste, Anabela Duarte e Ocaso Épico. Despistei-me. Da década de 20 para os anos 80?! De Elsa Schiaparelli e Sonia Delaunay aos artistas contemporâneos – Leonel Moura, Miguel Palma?! Verifico notas no caderno. A Ana e Leo entreolham-se. Riem-se, claro. O que se pretende não é um regresso ao passado. Estudá-lo - reinterpretá-lo. Juntar as disciplinas. A arte – design - moda e assumir uma atitude.
A conversa flui. Não poderia ser de outra forma.
Encarnemos sem hesitação o flâneur, o dandy e façamos de turistas na própria cidade. Um circuito pelas obras de Leonel Moura. O painel de azulejos do Pátio do Tronco, perpendicular à Rua das Portas de Santo Antão, o Parque das Nações e porque não a Avenida Eng.º Duarte Pacheco. Um Almada Negreiros com 5,25 m de altura, 3 de largura e 3 de comprimento. É obra. Em complemento marcar para esta Quinta-Feira, ao final do dia, inauguração da exposição de Miguel Palma e João Ferro Martins no antigo espaço da carpintaria do complexo da CARRIS de Santo Amaro. Retrocedendo no tempo e à boleia da comemoração do 120º aniversário de Almada Negreiros desenhar linhas que unam pontos: a Faculdade de Letras e Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian e o painel “Começar”, os vitrais da Igreja Nossa Senhora de Fátima e os painéis da Gare Marítima Rocha Conde de Óbidos. E para a semana, na celebração do trigésimo aniversário do Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão, poder-se-á admirar a quase totalidade do acervo de Amadeo de Souza-Cardoso em “Sob o Signo de Amadeo: Um Século de Arte”.
A conversa flui. Não poderia ser de outra forma.
Da moda, do design, da arquitectura, artes plásticas, literatura e gastronomia. Sim. Romantismo, ousadia, com a dose certa de snobismo de faca e garfo. Um picnic, um jantar no Entra, uma ida ao Snob ou em alternativa, ao Santa Clara dos Cogumelos.
A conversa flui. Não poderia ser de outra forma.
Despeço-me. Volto a acreditar na capacidade de nos surpreender, deixar encantar. Trauteio Zuvi Zeva Novi. Cidadão lisboeta, amante do ócio e tudo.