DIÁRIOS DO UMBIGO

  • none

Marco Polo e Vasco da Gama estão aí para o desmentir, mas o Oeste sempre exerceu nas mais diversas personagens, reais e imaginadas (escritas ou desenhadas), um enorme fascínio. Voltando aos descobridores Pedro Álvares Cabral, Cristóvão Colombo ou às personagens que preencheram grande parte da infância - Lucky Luke e mais tarde Blueberry, se bem que neste caso o carácter errático do mesmo não permita traçar uma rota com sentido tão preciso.

No campo musical o desejo de ir para Oeste não se restringe ao mais que trauteado refrão dos Pet Shop Boys. O ano passado tive a oportunidade de assistir à revigorante ménage à trois semi-acoustique. Passo a explicar: concerto de Walter Benjamin + Julie and the Carjackers + You Can't Win, Charlie Brown integrado na exposição Monkey Business de João Paulo Feliciano na galeria Cristina Guerra. Objectivo? Angariar fundos para viagem a Oeste (SXSW – Austin - Texas). Se dúvidas subsistem: qual o título do mais recente álbum de Capicua? Lá está! Capicua goes West (Mixtape Vol.2).

Imbuído pela coragem destes grandes aventureiros decidi rumar a… Oeste. Mas só em espírito, porque a viagem foi bem mais curta. Até Alcântara. Plácido Domingo, com o Tejo como pano de fundo e eléctrico a ritmo não muito acelerado como convém. Saída no Largo do Calvário. Perto, bem perto, e por pequenas vielas, chega-se à Lx Factory, que se confunde, neste dia, com o Lx-Market.

Calcorreando a famosa rua em paralelos, ou para os amantes de ciclismo em pavé, deparo-me com um saudável ruído de feira. Não o de megafone em punho, antes um cá –para lá – para cá entre bancas e lojas. Embora a ordem varie, a primeira banca do lado esquerdo é de cara conhecida. Com loja em nome próprio – MagicBus, na Escadinhas do Duque, encontra-se frequentemente na feira da ladra por exemplo, ou em mercados dedicados a “sugadores” de vinil. Desta vez, caixa com promoção de lp’s a cinco euros. Nada que me chame particularmente a atenção. Mas lá está, gostos não se discutem. Geminada, a banca dos livros. Não é a única, mas apresenta um conjunto de edições a preço bastante apetecível. Das últimas vezes, O pequeno Livro do Grande Terramoto” de Rui Tavares (cinco euros, aproximadamente 16 euros de poupança) e Quim e Manecas (1915-1918) de Stuart de Carvalhais (oito euros, 40 ao preço normal). Ambos pela Tinta da China, com pequeníssimos defeitos. Como disse vendedor atento: “São livros para ler, não para oferecer.”. Ainda entre livros, agora na Ler Devagar (www.lerdevagar.com). A Antologia do Conto Português” (cinco euros), mas a intenção é outra. Fico com a sensação que por cá terei de passar, outra vez, para longa pesquisa. A recompensa será reconfortante.

Novamente rua. Uma galeria de arte. Na rua? Sim e com nome a condizer: Galeria de Arte Ambulante. De seguida em casa, ou melhor na Retroshop. O efeito é semelhante. Pela sensação de conforto e pela beleza das peças de mobiliário vintage. Candeeiro em vidro, verde jade de enamorar. Preço não excessivo. Em frente, a loja da Editora Orfeu. Sim, essa mesma. A de Zeca e Godinho, de Fausto e Adriano entre tantos do nosso contentamento. Sala ampla, luminosa e disposição dos discos de forma clara. Selecção reduzida, mas como anunciado na porta: “Cd’s a preço de revenda”. Também há vinis. Será o regresso das lojas – editora à cidade? Assim espero.

No final, debruçado sobre roulotte, com fartura na mão e pôr-do-sol no horizonte: “I'm a poor lonesome cowboy | I'm a long long way from home”. Como não?

Diários do Umbigo

Newsletter

Subscreva-me para o mantermos actualizado: