Licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Ana Romero vive, agora, em Nova Iorque, onde começou por desenhar estampados para diferentes empresas e criadores de moda, e onde acabou por fundar a sua própria marca de lifestyle: www.anaromerocollection.com. Esta envolve a produção de lenços de senhora, capas para iPhone e almofadas com estampados de cores vibrantes, característica recorrente no seu trabalho. A conceituada Barneys New York foi a sua primeira cliente e os seus acessórios para iPhone já passaram pelas mãos de Blake Lively, em diversos episódios da série Gossip Girl. Ana é, sem dúvida, um exemplo de sucesso! Determinado em saber mais acerca do trabalho desta simpática e talentosa portuguesa, decidi fazer-lhe algumas perguntas.
Quando é que te mudaste para a Nova Iorque? E porquê?
Mudei-me para Nova Iorque há cerca de dois anos, juntamente com o meu marido, que veio trabalhar na Missão de Portugal junto da ONU. Viemos inicialmente para ficar durante dois anos, por isso eu tinha um sentido de urgência em aproveitar todas as oportunidades.
Quais são as vantagens e desvantagens de criar uma empresa em Nova Iorque?
A vantagem principal é que nos EUA, e em particular em Nova Iorque, existe um mercado muito grande e muito aberto às novidades. O mercado de consumo é tão veloz que as empresas, tanto as marcas como os retalhistas, precisam de coisas novas para alimentar esse mercado e por isso apostam mais facilmente em novos designers. Aqui o que conta é a qualidade do trabalho e tudo o resto é acessório. Por estas mesmas razões, é mais fácil fazer contactos, tanto com grandes, como com pequenas empresas. Em Nova Iorque há também um certo fascínio pelas disciplinas criativas, pelo que é um dos melhores lugares no mundo para trabalhar em design e em moda.
O facto de seres europeia influencia a tua estética e forma trabalhar? Se sim, como?
O facto de ser europeia e em especial portuguesa influencia certamente. A maior parte dos meus colegas tem um visão extremamente economicista do trabalho. Se o cliente não paga, eles não fazem. Eu sou mais flexível e ofereço serviços que me ajudam a fidelizar o cliente. Muitas vezes as empresas mais pequenas não têm gente para, por exemplo, pôr desenhos em repetição ou fazer alterações de cor. Embora dê algum trabalho, eu prefiro que o meu cliente fique satisfeito com o serviço, visto que não é apenas o design que conquista o cliente, especialmente quando há muita concorrência. Por outro lado, a utilização da cor no meu trabalho é um reflexo da cultura visual do sul da Europa. Em Nova Iorque há uma certa preferência pelas cores mais escuras e pelo preto, mesmo no Verão, o que joga a meu favor porque a utilização de cores vivas distingue o meu trabalho. O meu objectivo final em termos de cor é sempre uma conjugação harmoniosa e que, apesar da sua saturação, haja alguma sofisticação e elegância. Acho que essa é a minha assinatura e o aspecto que as pessoas mais apreciam.
Para além de o fazeres para a tua própria marca, também crias estampados originais para outras empresas. Existe algum profissional, ou marca, com o(a) qual tenhas gostado especialmente de trabalhar?
Tive o privilégio de visitar alguns lugares interessantes como o atelier da Betsey Johnson, da Rachel Comey e as sedes da Calvin Klein e da Ralph Lauren, mas, em geral, é mais gratificante trabalhar com pequenos designers do que com marcas maiores. As grandes marcas têm equipas muito grandes, é preciso agradar a muita gente e em especial aos accionistas, por isso o mercado dita quase tudo. As pequenas marcas, ou de gama mais alta, têm muito mais liberdade criativa. Já vendi desenhos para marcas de referência aqui nos EUA, como a Nicolle Miller, a Rebecca Taylor, a Anthropologie e a Macys, entre outras. Alguns dos meus desenhos desfilaram durante a NYFW na colecção da marca masculina Parke and Ronen, com o André Leon Talley a assistir na plateia. Através de outros clientes, vi o meu trabalho à venda na Saks Fifth Avenue e no Barneys Co-op. Os melhores desafios têm acontecido depois de ter lançado a minha marca, tendo o Barneys New York como primeiro cliente, o meu trabalho ter aparecido na Gossip Girl pela mão da Blake Lively e propostas de projectos que estou a desenvolver neste momento.
Uma vez que és muito interessada em moda, existe, em particular, alguma marca ou personalidade relacionada com essa indústria que influencie o teu trabalho?
Inicialmente vendia os meu desenhos apenas para outras marcas e o mercado da moda determina as tendências para os outros mercados. Sempre que saem novas colecções há designers que são referência em termos de estampados e que acompanho: Basso & Brooke, Mary Kratrantzou, Marc Jacobs, Proenza Schouler, Diane von Furstenberg, Etro, Missoni, Erdem, Mathew Williamson, Peter Pillotto, Marni, Cavalli, Dolce & Gabana, entre outros. Não sou uma especialista, de todo, até porque é bom não me deixar influenciar demasiado. Sigo as tendências em termos gerais, no que diz respeito às temáticas mais em voga, mas depois tento dar o meu ponto de vista. Na minha colecção, tenho total liberdade criativa, por isso a moda é uma inspiração em termos de complexidade visual, mas não em termos de tendências. Acho que a Optical Art é o movimento criativo que mais influência o meu trabalho e a obra de artistas como a Bridget Riley, o Victor Vasarely e o Frank Stella.
De todos os estampados que fizeste até hoje, tens algum favorito?
Eu faço muitos tipos de estampados para diferentes clientes e produtos, mas os que apresento na minha colecção são os meus favoritos e os que sintetizam o meu estilo pessoal e melhor representam o meu trabalho como designer. O mercado da moda é a minha principal inspiração e a minha intenção é alargar a outros mercados essa complexidade visual em termos de estampados, ainda que adaptados a outros contextos. Hoje em dia a impressão digital permite uma maior liberdade criativa e que os designers possam procurar desenvolver outras estéticas, principalmente no que diz respeito ao mercado da decoração. Procuro criar estampados que misturem conceitos diferentes e que representem uma nova abordagem a motivos mais tradicionais.
Que conselhos darias a um jovem designer que queira fundar a sua própria marca?
Aconselho a todos os designers que exponham o seu trabalho em feiras internacionais. O mercado em Portugal é pequeno e muito contraído em termos de preços, por isso não permite que projectos mais experimentais ou designers independentes sobrevivam facilmente sem apoios. É preciso considerar Portugal como uma plataforma para o resto do mundo, em que existe know-how e qualidade de produção, mas em que para haver maior visibilidade e sustentabilidade das marcas é preciso expandir para o mercado internacional. Esta é também uma boa forma de testar o nosso trabalho, ter algum feedback da indústria e uma oportunidade de aprender e trocar experiências com outros designer.
Onde é que pessoas residentes em Portugal podem adquirir os teus produtos?
Neste momento apenas online no meu website: www.anaromerocollection.com, mas tenho recebido diversos contactos de lojas e distribuidores. É preciso haver uma certa preparação em termos de logística, por isso só posso dizer que adquirir os meus produtos em Portugal está para breve!





























