Guilty Pleasure
Sendo eu um snob no que diz respeito aos perfumes, seria muito improvável que algum dia louvasse a marca Hugo Boss para além do genial Number One de 1985 e os interessantes Elements de 1994 e Elements Aqua de 1997. Tudo o resto desde então até agora tem ido desde um registo pouco interessante até ao nível do desastre. Até agora. Sabendo que tinha sido lançado recentemente o flanker Hugo Boss Bottled Intense em versão Eau de Parfum, decidi dar o benefício da dúvida e vaporizar-me com ele. Às escondidas, como se se tratasse de um pecado... E aqui estou eu a assumir que tenho neste momento um belo frasco destes na minha coleção e posso dizer que é apenas perfeito.
De Hugo Boss não se pode esperar algo de revolucionário. Esta é uma marca para executivos ou sub-30 com aspirações profissionais. Mas Hugo Boss Bottled Intense é um nível acima. Muito mais elegante e profundo que todos os perfumes masculinos antes dele na marca alemã, é em versão eau de parfum que tudo se adensa e ganha intrigas de algo mais do que um fato e gravata. Este é um aroma de homens, ou de meninos com a mania que são crescidos (e algumas mulheres). O seu início é bem datado de uma certa perfumaria dos anos 90. Um tom aquático e frutado com muito sumo de maçã verde a borbulhar. Aliás, como uma cidra em que se mergulhou toda uma maçã verde fresca e de fazer crescer água na boca. Esta maçã está regada a um xarope de ácer ou mel, algo doce e rico que a impede de ser apenas um batido de fruta. Este otimismo e leveza com um piscar de olhos ao aroma tradicional masculino (lavanda ao estilo barbearia) não parece muito contemporâneo e isso dá-lhe uma certa patine irónica que se não foi intenção do perfumista, deveria ser.
O que parece mais um perfume pouco ousado, revela-se algo mais. De novo, nada de inovador aqui se apresenta, mas há uma profundidade, um calor de corpo, um conforto sensual. E isso eu não esperava. Boss Bottled Intense Eau de Parfum é quase igual à Eau de Toilette sua antecessora, mas o facto é que na nova versão mais concentrada (o líquido é mais escuro) há uma sensação de matérias naturais que normalmente falta aos perfumes Hugo Boss. Há aqui dentro, “bottled” um acorde de tabaco muito rico, com relação ao couro envelhecido, algo esfumaçado, como se do interior de um “gentleman's club” se tratasse. A frescura vem de um lado floral com flor de laranjeira, mas a baunilha adensa tudo e liga-se ao tabaco como se de um cachimbo se tratasse. Depois acresce o lado condimentado e doce da canela e do cravinho, assim como a cremosidade do sândalo. Tudo para criar algo elegante, mas caloroso, sexy. E com alguma subtileza há um subtexto de desodorizante que não podia faltar numa edição masculina comercial. Mas até isso, contrastando com o tema geral de obscuridade, lhe traz alguma graça. Um excelente “guilty pleasure” que é de guardar e usar para seduzir.