É inacreditável o poder do mar salgado, da areia, do sol, dos aromas do Piz Buin, dos oregãos, do peixe na brasa, enfim, é inacreditável o poder do Verão.
Bastam apenas alguns dias em off para que tudo ganhe novos contornos, ou melhor, para que os contornos de tudo ganhem definição. É como que se o olhos ganhassem uma nova juventude. Chamemos-lhe o discernimento do Verão.
Mas época estival que se preze, mais do que discernimento, deve ter banda sonora que vá bem com o dourado da pele.
Apesar de nas férias até gostar de dar descanso aos ouvidos para melhor apreciar os sons a que normalmente não passo cartão, aqueles da natureza (ai), este ano a a escolha foi aleatória que, de tão feliz, se tornou rigorosa. Ou seja, dei por mim a ouvir uma única banda com o nome de uma das minhas séries preferidas, Twin Peaks. À partida, não parece muito leve (nem muito original). A ideia de ser transportada para o complexo e turvo mundo de Laura Palmer não era, nas férias de 2013, uma das minhas ideias de relaxamento. Mas os Twin Peaks prenderam-me à primeira audição exactamente porque são refrescantes, transbordam de alegria imprudente, energia aparentemente ilimitada e não exigem grande dedicação. Ou seja, transbordam a Verão. Mas quem são eles? Não interessa, devem de certeza ser uns putos fixes que têm boas referências. O que interessa é que são uma banda que se estreia com o álbum Sunken e que, desde a abertura vistosa com Baby Blue ao encerramento cristalino com Ocean Blue, apenas nos pede 20 minutos de atenção. Pelo meio: guitarras a puxar distorções, guitarras a limpar distorções, vozes a bater nos vermelhos, dream pop e reverberações leves qual colónia de bébé. Ou seja, tudo aqui é garage-rock e de areia nos pés e de protector solar nos ombros.
Twin Peaks - Fast Eddie
Depois das férias, depois de ter estado submersa pelas ondas da costa vicentina, submersa numa preguiça livre de culpa, continuo submersa no universo dos Twin Peaks. Sunken é como uma paixoneta de Verão: é intensa, rápida e descomprometida. Daquelas que, apesar de não mudar grande coisa, nos faz ver tudo com novos contornos. É mesmo inacreditável o poder do Verão.
