Deus criou o mundo e deixou-o em paz para crescer e multiplicar-se. O que fez o homem assim que se libertou da forma macaco? Povoou o recém criado objecto esférico e distribuiu-se por toda a parte. Louca que é a sua natureza, assim ficou o mundo louco. É destas loucuras que vive o universo referencial que Carlos Farinha (Santarém, 1971) espalhou sobre uma enorme tela e depois estilhaçou em pequenos fragmentos de outras telas mais pequenas. O Jardim das Delícias, o tríptico de Hieronymus Bosch, é o ponto de partida e Portugal do século XXI o de chegada nesta fábula de costumes e bizarrias.
O Jardim dos Pigmeus é o quadro central deste projecto. Tal como na obra de Bosch, a peça principal desta exposição evoca um tríptico. No exterior, visível quando o tríptico está fechado, uma terra recém formada e envolta ainda num véu de virgindade e os seus habitantes como que envoltos em placenta. Na metade superior do planeta aparece Deus, numa atitude apática de quem já se apercebeu de que o mundo tomou as suas próprias direcções, sem o seu controlo directo. Uns telecomandos de jogar substituem as suas vontades. Se os comandados obedecem ou não, está por apurar.
Carlos Farinha cria nas suas telas cenários repletos de personagens, quase filmes, pela sua capacidade narrativa. Entre o registo quase naif e um expressionismo contido, os seus quadros são histórias cujos elementos temos que completar. Dedo Grande do Pé é ainda um seguimento do projecto Mundo à Cabeceira, iniciado em 2007 . São crónicas pictóricas que vagueiam num limbo de influências, conceitos, problemas, e emoções numa fragilidade aparente entre a sua militância na representação e os seus tratamentos. Definir a pintura de Carlos Farinha não é difícil, é um verdadeiro lugar de encontro com os "quases" da vida de quem procura um certo sentido, a sua humanidade...
Dedo Grande do Pé vagueia entre o já referido Jardim das Delícias de Bosch, a Origem do Mundo de Gustave Courbet e o mito dos pigmeus ou dos pahouinbetis do sul do Congo em que o herói recusa-se a sair pela vulva e acaba por nascer no dedo grande do pé da sua mãe. «Este processo de colocação do título acaba por ilustrar de forma simples todo o meu processo de criação onde referências visuais, mitológicas ou espaciais, são aqui descontextualizadas e deslocadas para criar o meu dedo grande do pé», diz o artista. A grande tela de 150 x 195cm origina todos os outros quadros presentes na exposição (que são como estilhaços ou fragmentos mutantes) e, simbolicamente apenas, encerra com o quadro Sputnibosch.
Carlos Farinha é Licenciado em Artes Plásticas, vertente escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade Clássica de Lisboa.
Exposições individuais - 2009: Dedo Grande do Pé, Galeria Fábulas. Braço de Prata, Fabrica de Braço de Prata. À Beira Terra, Casa de Artes e cultura do Tejo, Vila Velha de Rodão. 2008: O Mundo à Cabeceira, Cidadela de Caiscais. 2006: Animals, Estúdio da Rosa, Lisboa. 2003: Pólen, Malaposta. 1996: Macelada, (instalação), Sobreira Formosa. 1993: Gavetas Íntimas, Museu Municipal de Loures. 1990: Quando as coisas acontecem, Escola António Arroio.
Ultimas exposições colectivas (selecção) - Launch exhibition, Art and Escape, Londres. Ética- a Vida (n)a Morte, Sala da Nora, Castelo Branco. Artzine, Biblioteca de Belém (CML). À Beira dos Caminhos, Museu dos Lanficíos/UBI. Esta é a minha paisagem, Centro Cultural de Bragança. Cadernos de Campo, Ministério das Finanças, Lisboa
Prémios (selecção)- 1996: Menção Honrosa (Pintura) - Prémio Lima de Freitas do Rotary Clube de Portugal / Cruz Vermelha Portuguesa. 1994: 2º lugar Prémio Fidelidade Jovens Pintores Culturgest e Fundação da Cultura.1992: 1º Prémio de Pintura JovÁrte 92. Câmara Municipal de Loures. Prémio Câmara Municipal de Sintra. 1991: 1º Prémio Reynaldo Dos Santos em Artes Plásticas. Câmara Municipal de Vila franca de Xira.