Fotografias: Olivier Minaire.
Casino Luxembourg – Forum d’art contemporain até 19.04.2015
Ao entrarmos na exposição Resolute – Design Changes somos confrontados com um painel em dupla-face com o manifesto: Design changes the way we look at society – Our Society changes the way we look at design (Reza Kianpour). Esta declaração deverá prevenir o visitante desatento de que não tem perante si uma exposição de design encomendado, confortável e consumível. O design no seu campo expandido levanta inquietações, é livre de um mandatário e não está escravizado a um mercado. Aqui os designers são autónomos, manifestam as suas visões do mundo e isso poderá envolvê-lo a si. É um aviso.
Sempre se reconheceu na arte e no design o seu potencial como dispositivos de manipulação ideológica.
Ao serviço dos poderes vigentes, foram instrumentalizadas para instaurar iconografias próprias, para propagandas de forte expressão identitária e uniformizadora do tecido social, aniquilando quaisquer narrativas alternativas, estilos rivais ou ideias divergentes.
Só o design pode agir como antídoto ou contracultura de si mesmo, descodificar-se e carregar-se de novos sentidos. Para isso, deve estar consciente da sua eficácia visual e dos seus limites e missões éticas.
Nunca como hoje se reconheceu o poder do design. Mas são hoje as forças do poder que parecem ter-se invertido.
A evolução da tecnologia, o fácil acesso a redes sociais e a aplicações móveis possibilitou que os designers reinventassem as formas de veicular informação e de envolver as pessoas como participantes activos de mudança, mesmo na convivência dos contextos mais opressivos. Fenómenos recentes como a Primavera Árabe, ícones virais, movimentos civis e manifestações com multidões em holograma (contrariando uma lei que as proibira de o fazer fisicamente), comprovam essa democratização.
Essa é a discussão aberta que a exposição Resolute – Design Changes, no Casino Luxembourg – Forum d’art contemporaine[1] pretende encetar, através de 21 dos mais variados projectos de design de mobilização social. Apresentada inicialmente no Graphic Design Festival de Breda, na Holanda, em abril de 2014, e comissariada por Dennis Elbers (também director criativo do festival) e pelo designer gráfico Sven Ehman, propõe vários esquemas de inconformismo e sensibilização da sociedade para tomar acção sobre os seus problemas. Reflecte também a determinação de uma geração emergente de designers gráficos como pivots de mudança em qualquer um dos media em que se movimentem.
Obedecendo aos esquemas estruturais rigorosos desta disciplina, a exposição tem um manual de instruções (a folha de sala) e está organizada em três capítulos ou missões:
Revolt – notion by confrontation: projectos que abrem o debate e confrontam o público com uma questão;
Em Occupy George (2011), de Ivan & Andy, alude-se aos slogans do mediático protesto Occupy Wall Street. Sob o lema "Money talks", os designers fazem uso da esmagadora circulação das notas de 1 dólar e da participação civil para intervirem graficamente sobre elas, "ocupando" de forma simbólica o sistema financeiro. Disponibilizam online templates de estampilhas para download e impressão caseira sobre as notas ou para produzir carimbos para a mesma finalidade. Nos diagramas figuram dados estatísticos que denunciam a disparidade na distribuição da riqueza nos EUA.
Review – grip by information: projectos que aumentam a transparência da informação disponível sobre um assunto;
O projecto Drone Survival Guide (2013), de Ruben Pater, como o nome indica (com o irónico subtítulo: Twenty-First Century Birdwatching), apresenta um conjunto de instruções em vários idiomas (o site convida à participação do público na tradução), para desmantelar a eficácia de drones militares. O projecto obteve relevância internacional como ferramenta educativa e ativista. O cartaz está disponível para download, sendo também possível encomendá-lo impresso num papel reflector que funciona como escudo aos sensores de drones.
Refresh – affect by motivation: prover as ferramentas para que o público possa participar de imediato num processo de mudança;
O mediático Putin a rainbow (2013), de Yuri Veerman e Brigiet van den Berg, reage às políticas do governo de Putin contra a propaganda gay, que incluiu banir a utilização da imagem do arco-íris. No site com link acima pode-se descarregar uma imagem de Putin e combinar símbolos antagónicos de forma criativa putting him a rainbow.
Sabotagens sob a forma de publicações, cartazes, documentários, movimentos virais ou aplicações móveis com a finalidade de sensibilização política, humanitária, ambiental, económica e étnica é pouco para descrever em pormenor cada proposta.
Mesmo que não possa passar pelo Luxemburgo até dia 19 deste mês, poderá certamente envolver-se activamente com esta exposição. Todos os detalhes sobre cada projeto AQUI.
A exposição surge no contexto do 5.º aniversário da associação Design Friends. Em extensão à exposição, numa sala contígua, a Design Friends apresenta uma seleção de seis trabalhos de designers gráficos sediados no Luxemburgo que se candidataram: Postscript: Luxembourg.
Também presente o NON (2002) de Jean-Christophe Massinon (1962-2011), um logo-manifesto que se tornou viral na segunda volta da campanha de Jean-Marie Le Pen para as presidenciais em França e que voltou a ser relevante hoje, remetendo também para várias questões levantadas nesta exposição.
Sites:
www.casino-luxembourg.lu/_dbfiles/lacentrale_files/1500/1594/RESOLUTE%20EXHIBITION%20GUIDE.pdf
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[1] O Casino Luxemburgo, inaugurado em 1882 como Casino Bourgeois foi, para além de uma casa de jogo, um local onde decorriam uma variedade de encontros e eventos sociais e culturais da época. Remodelado em 1995, passou a receber exposições temporárias e hoje é um dos espaços culturais mais estimulantes no contexto da arte contemporânea no Luxemburgo.
Fotografia: Lang/Baumann
