MODA E BELEZA

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Chegou finalmente a Portugal o novo perfume masculino de Valentino. Simplesmente chamado de Valentino Uomo, este é o regresso da marca aos perfumes dirigidos ao consumidor masculino após a última edição V Pour Homme em 2006, entretanto descontinuado. Já o tínhamos experimentado em vários países, dado que Portugal foi um dos últimos a recebê-lo na Europa, como quase sempre acontece. Mas valeu a pena a espera...

A primeira coisa que se pensa assim que se vê o frasco não é bem uma palavra, é mais uma exclamação: “UAU!” devido ao ultra-atraente frasco que, embora pareça bastante feminino, é seja como for, de uma beleza inescapável (esta palavra existe?). Pesado e luxuoso, os designers da Valentino decidiram arriscar não pela modernidade mas antes pela audácia de imprimirem códigos tradicionalmente femininos a um frasco para um produto masculino. O vidro facetado dá a impressão da dispersão da luz e um requinte normalmente associado a produtos de “boudoir” do universo feminino. Apenas a ausência de tampa o torna pouco funcional, havendo um mecanismo de protecção bem feio, disponível para quem gosta de andar com os frascos em viagem. Não que este seja fácil de transportar, mais parece uma arma mortífera pelo seu peso. Mas que sabe bem segurar na mão, sabe. E em contraluz, o frasco parece um esplendor de luxo. Coisa pouco vista na pobre perfumaria mainstream.

Os códigos de design associados ao universo feminino no frasco são um elemento bastante interessante se atentarmos à composição desta fragrância. Mais uma vez a originalidade não se dignou a aparecer na festa. A fórmula é já vista e repetida, mas o eco que é feito de forma subliminar entre o design do frasco e o design do aroma, torna a coisa interessante. De que falamos? Da íris, essa flor bem italiana de cheiro empoado e que é símbolo de Florença, flor associada à nobreza e de uma beleza frágil. Na verdade não é da flor que vem o seu cheiro precioso mas sim dos seus rizomas, depois de processados através de uma metodologia longa e delicada. Essa flor é desde há décadas associada aos perfumes femininos e até à maquilhagem. O aroma de íris povoa uma multitude de perfumes tradicionalmente dirigidos às mulheres e exemplos mais recentes são Acqua di Parma Iris Nobile, Prada Infusion d'Iris, Frederic Malle Iris Poudre, o excelente Salvatore Ferragamo Viola Essenziale ou Guerlain Shalimar Parfum Initial. Mas foi a Dior que revolucionou de forma genial o uso da Íris quando em 2005 lançou Dior Homme. Porquê a palavra “revolução”? Porque até então seria impensável fazer um perfume masculino baseado na íris. Seria uma composição considerada exclusiva de um perfume demasiado feminino, até que o perfumista Olivier Polge inventou a fórmula de o transportar para o universo dos homens. Um sucesso repetido pela marca diversas vezes em vários flankers, com outras marcas a tentarem imitar a inteligente manobra criativa (Shalimar Parfum Initial é apenas mais uma variação de Dior Homme). A mais recente a fazer isso, e de forma bastante evidente é Valentino. Na verdade, nos primeiros minutos após aplicação na pele, é Dior Homme e não Valentino Uomo, o que o nosso nariz detecta. A semelhança é demasiado óbvia para ser uma coincidência. Portanto, amantes de Dior Homme, façam o favor de irem à perfumaria comprovar o que vos digo.

Valentino Uomo começa com uma núvem elegante e contida de íris, confortável, equilibradamente doce, sensual, com uma densidade cautelosamente estudada. A suavidade é medida ao milímetro e contraposta com alguma força que vem da concentração das matérias-primas que não deixam baixar a voz do perfume. E pronto, Dior Homme instalou-se em Valentino. Mas não se pense que o perfume é assim tão limitado. Após esta impressão inicial, Valentino dirige-se a uma área mais gourmand e aparecem café e cacau a jogarem uma dança de pastelaria. Uma viragem interessante e inesperada para quem pensava que era mesmo Dior a guiar os passos. As notas de coração são uma delícia gulosa, fácil e agradável. Nada de inovador, mas mesmo assim bastante decente e suficientemente intrigante. Julgar-se-ia ser o melhor perfume masculino lançado pela fabricante espanhola Puig nos últimos anos, até que chegamos às notas de fundo, passadas duas horas. É aqui que toda a alegria se vai embora, ficando apenas uma base (com longevidade bem decente) que a Puig usa em todos os seus perfumes masculinos desde Paco Rabanne One Million. Uma mistela sintética de madeiras e almíscares, mil vezes repetida, como se este perfume tivesse sido misturado numa tina mal lavada, ainda com resíduos dos outros perfumes da mesma fábrica. Consegue nunca ser mau, mas este senhor moderno e elegante tem um fundo de chinela no pé. É triste, pois Valentino Uomo até é um bom perfume. Não podiam ter usado uma base só um bocadinho mais trabalhada, senhores da Valentino? É que assim uma pessoa começa o dia a cheirar a homem rico e refinado mas à tarde acaba por se parecer mais com o trolha...

 

Avaliação: 3 (1-5)

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