Exposição de Arte Pública
Está a decorrer uma mostra temporária de esculturas da autoria de Rogério Timóteo que irá ficar até ao final do mês de Novembro na Avenida da Liberdade e no interior do Tivoli. A mostra foi organizada em parceria entre a Câmara de Lisboa e a empresa UAU, dando início às comemorações dos 90 anos do Teatro. É formada por uma vintena de peças escultóricas, sendo dez delas, em resina e ferro, de dimensões monumentais colocadas na artéria urbana mais luxuosa da capital. O grupo de trabalhos adquire uma linguagem figurativa com um tratamento formal de linhas classicizantes. Esta viagem pelo passado levou-o a trilhar caminhos já abandonados, redescobrindo processos e respectivas técnicas, até porque a sua aprendizagem artística como escultor, vem da escola do escultor Mestre Anjos Teixeira, tendo sido aluno entre 1985/89 no atelier de Sintra. Uma das particularidades dos seus trabalhos é a junção de materiais diferentes, mármore/metal, utilizando métodos contrastantes, valorizando as suas propriedades e qualidades próprias salientando-se sobretudo a sua luminosidade.
"É minha intenção deixar a energia contida em cada gesto para tornar a atitude mais sentida"
Das peças expostas existe uma unidade de conjunto apesar das doze obras situadas no interior em mármore/bronze apresentarem-se numa escala mais intimista, que nos habituámos a ver do autor nos espaços galerísticos. As esculturas expostas no interior do Teatro contagiam todo o foyer, seguem uma mesma linha de actuação, um discurso de harmonização com a envolvente interna, criando espaços de contemplação.
Estas expandiram-se e saíram para a rua numa clara necessidade de espaço, apropriando-se, ainda que temporariamente, da calçada junto ao Teatro. Nalgumas existem pormenores formais com volumes abstractos de forte geometrização que vestem e/ou resguardam os corpos expressivos criando rupturas e uma dinâmica própria nascendo esculturas contemporâneas, afastando-se de um certo academismo, como a escultura Abismo onde um cubo tomou o lugar do rosto num corpo de braços abertos, como se fossem asas, para levantar voo. Em contrapartida, surge um Rosto de grande escala de linhas hirtas e severas, desprovido do corpo; sendo talvez esta a escultura chave da exposição porque faz a articulação com o teatro, tanto pelo espaço que ocupa como pela representação funcionando como uma máscara.
As esculturas do exterior foram distribuídas em dois grupos de cinco nas duas faixas na proximidade do edifício de espetáculos, oferecendo diferentes posicionamentos; ora se encontram numa extrema verticalidade ou horizontalidade Horizonte, ora curvadas Origem ou reclinadas Tágide e A Queda de Ícaro proporcionando expressões pensativas dando aso a um maior recolhimento. Nalguns casos, funcionam com um agrupamento de parelhas de dois corpos, sob a forma de duo, como em Ritos de Passagem e Guardião I e II.
Esta iniciativa faz todo o sentido dado o aproveitamento do espaço circundante do Teatro, dando sinais no plano festivo e chamativo, apesar do espaço urbanizado da Avenida possuir uma história iconográfica personalizada onde é difícil de abstrair os seus traços gerais tão específicos. É um local exigente por natureza e qualquer peça contemporânea a ser instalada causa sempre alguma perturbação no plano visual, não estando em causa a qualidade e o valor das esculturas; tornando-se complexo trazer novas coreografias que assentem na perfeição.
Um dos pontos que se encontra a seu favor é o facto destas obras pertencerem a uma gramática figurativa, articulando e convivendo bem com a série de estátuas implantadas na Avenida, há cerca de sessenta anos. É assumido pelo artista o mesmo traço e estilo autoral, persistindo no mesmo discurso num ritmo já anteriormente delineado, não trazendo nesse aspeto uma nova dinâmica de soluções diferentes, sendo os enredos tratados e recorrentes noutras mostras expositivas já realizadas. O autor refere que para este evento apenas algumas das esculturas foram realizadas de raiz.
O seu maior desafio consistiu no trabalho de grande escala devido às especificações próprias da envolvente do local apesar de já ter obras de grande porte em espaços públicos espalhadas pelo país. Rogério Timóteo utiliza nas suas peças o corpo como uma força dominante, numa espécie de redescoberta constante de formas expressivas da figuração, com um forte cunho dramático, expondo nas suas posições e atitudes, leituras diferentes. Todas elas remetem para um universo de sinais e símbolos reconhecíveis como nos indicam os próprios títulos: Origem; Abismo; Tágide e A Queda de Ícaro, onde "Qualquer das esculturas expostas pode ser uma personagem da sua própria história".