“Antes, os designers viajavam para África em busca de inspiração. Agora, eles «googlam» África”. Foi mais ou menos isso que o Alber Elbaz, actual director criativo da Lanvin, disse recentemente ao Tim Blanks, do Style.com, após o desfile masculino de Primavera/Verão 2014 da icónica casa de moda, em Paris.
É verdade. Actualmente, com a Internet, as possibilidades são quase infinitas. Podemos facilmente aceder a informações fidedignas que antes só poderíamos conhecer se gastássemos imensos recursos e, lá está, se nos levantássemos do nosso sofá/cadeira, saíssemos de casa, ou até mesmo do nosso país! Os computadores e Internet causaram um grande impacto sobre todas as esferas da sociedade e a indústria da moda não foi excepção. Basta pensarmos nos desfiles transmitidos em directo nos sites das grandes marcas, no surgimento dos bloggers de moda e no comércio electrónico que cresce de ano para ano, para nos apercebermos de que a indústria da moda está completamente diferente daquilo que era há alguns anos atrás, quando a Internet ainda era encarada como uma “brincadeira” com poucas vantagens para os departamentos de gestão e marketing das empresas.
No entanto, o lado económico da indústria da moda não foi o único afectado pela popularização dos computadores e da World Wide Web. Voltando à citação de Alber Elbaz, não há dúvidas de que actualmente a Internet é uma enorme fonte de inspiração para os designers. Com ela, os criadores de moda conseguem facilmente recorrer a imagens, vídeos e ficheiros de áudio com potencial para servirem de base para uma colecção. Mas, hoje, essa inspiração vai mais além – a própria internet, mais concretamente a cultura e a estética que a ela se encontram associadas, acaba por influenciar o trabalho de diversos designers.
Veja-se o caso da colecção de Primavera/Verão 2013 da marca Proenza Schouler, cuja inspiração partiu do Tumblr. Sim, do Tumblr! Jack McCollough e Lazaro Hernandez admitiram que os estampados digitais presentes em vários looks foram baseados em imagens encontradas na plataforma de blogging criada por David Karp.
Cerca de seis meses antes, Jeremy Scott apresentou em Nova Iorque a sua colecção de Outono/Inverno 2012. A inspiração recaiu muito sobre os anos noventa, altura em que a maior parte das pessoas, sobretudo adolescentes, começou a ter acesso à Internet pela primeira vez. Muitos dos looks exibiam peças com estampados que nos remetem para a estética de browsers e motores de busca como o Google.
Na última edição da ModaLisboa, no princípio deste ano, a marca V!TOR apresentou, no seu desfile várias peças estampadas com imagens do Grumpy Cat, uma gato “internet-celebrity”.
Recentemente, na semana de moda masculina de Londres, Xander Zhou apresentou uma colecção com diversos estampados reminiscentes da estética da Internet, com elementos que variavam entre fotografias de fraca qualidade, resultados de pesquisas feitas no Google e notificações de Facebook e iPhone.
Existe uma marca de moda recentemente fundada em Nova Iorque, chamada Eckhaus Latta, que tem ideias muito interessantes. As suas colecções são muito conceptuais, mas o resultado acaba por ser sempre estranhamente “usável”. Na sua mais recente apresentação, a dupla de designers constituída por Mike Eckhaus and Zoe Latta propôs uma série de looks com estampados de fotografias do Steve Jobs, fundador da Apple, em várias alturas da sua vida.
Existe uma coisa em comum entre todos os designers de moda mencionados anteriormente. Todos eles são jovens ou, pelo menos, são conhecidos por manter um diálogo com as gerações (Jeremy Scott, por exemplo) mais novas através do seu trabalho. Espera-se, portanto, que este novo movimento estético, que recorre a novas tecnologias não só como recurso técnico mas também como inspiração, venha a crescer cada vez mais nos próximos tempos. Para os nostálgicos, que acham que tudo o que agora se faz na moda não passa de uma cópia de coisas que já foram feitas no passado, aqui está a prova de que a inspiração não tem limites e que haverá sempre novas realidades, novas estéticas.