Fotografias: António Néu.
Composta por 12 quartos a Pensão Favorita esconde no seu interior uma série de boas surpresas, entre elas o museu do design existente em cada quarto com sofás, mesas de cabeceira, candeeiros e cadeirões numa harmonia perfeitamente idealizada pelas mãos de Sam Baron (director artístico da Fábrica da Benetton em Itália).
Os quartos são grandes, têm espaço para respirar, e uma série de detalhes que vamos descobrindo a pouco e pouco. A última boa descoberta foi um closet com bastante espaço e com um espelho de corpo inteiro no seu interior, uma delícia para a comunidade feminina. Passamos à sala de estar onde encontramos uma série de objectos e corners que nos ocupam a visão e a mente. Um móvel cristaleira cheio de objectos made in Portugal, desde Bordalo Pinheiro aos sabonetes Ach Brito cuja curadoria pertence ao Portuguese Vintage, ao qual se juntam O Alfaiate e a loja de design Colönia.
Descemos as escadas e ao chegar às traseiras revela-se um jardim que nem por sombras pensamos existir ao entrar no edifício. Assemelha-se a um daqueles jardins que vemos nos filmes japoneses. Calmo, tranquilo com uma esplanada que convida a ler um livro no sossego enquanto um gato preto, o Sansão, que já se integrou no espaço, vai lançando o seu charme pelos clientes. Mal nos sentámos no jardim aninhou-se no nosso colo e teve dificuldades em sair.
Desde o início que Ema tinha a ideia de criar o jardim. Foram em busca de materiais portugueses de forma a fazer o jardim e os quartos da melhor forma possível e mais enquadrada. Não queriam apenas um bloco de quartos e também eles foram trabalhados por Sam. Numa fusão entre a cidade e o campo todos eles mergulham num completo silêncio. Nas camas colchas de renda.
A ideia de construir este espaço partiu da cabeça de Ema Xavier e a ela se juntaram o marido Filipe Maia, o arquitecto Nuno Sottomayor e Sam Baron. De forma divertida e espontânea Ema foi-nos contando a história da Pensão Favorita. Trabalhava em hotelaria quando há sete anos atrás pensou em abrir um espaço, mas não no sentido tradicional do termo hotel. Aliada a esta vontade estava a paixão que sentia por peças de mobiliário antigas que foi coleccionando e restaurando juntamente com Filipe Maia.
A ideia estava lá mas não havia condições financeiras para a levar para a frente. Começou a procurar espaços, independentemente de não ter dinheiro para levar o projecto para a fente, mas movida pelas palavras de um amigo que lhe dizia “vai procurando e depois vais ver que o dinheiro aparece”.
Procurou, procurou e lá encontrou o prédio perfeito na Rua Miguel Bombarda. Assim foi, o dinheiro apareceu e compraram o prédio. Ao projecto juntou-se o arquitecto Nuno Sottomayor que fez o seu estudo e reestruturou não só o interior do prédio como o seu exterior. Seguidamente aparece Sam Baron. E como surge Sam no meio do projecto? “O mundo é pequeno. Ele é muito amigo da Isabel Abreu, da cerveja Sovina, que lhe falava de mim e do meu projecto. No eu início não tinha tempo nenhum e nem lhe dava muito importância. Até que houve uma altura que ele me disse: 'Eu estou cá. Queres trabalhar comigo ou não?' Sam é mesmo trabalhador, levanta-se às seis da manhã todos os dias e percebi que tinha que o levar muito a sério. Meti-me no carro e vim a correr enquanto pensava: 'Ele está mesmo interessado, não posso brincar com isto'. Sam arranjou um fio condutor entre os móveis que eu já tinha e a personalidade dele. No meio da minha tralha, encontrou um equilibrio”.
O restaurante é também ele parte integrante do projecto. No dia do nosso jantar estava cheio e achámos a comida deliciosa. Uma comida tradicional bem confeccionada com uns toques de requinte. Comemos bacalhau confitado com migas de broa, chouriço e grelos. Estranha a associação dos grelos mas devo dizer que dá o toque da diferença, o prato torna-se menos enjoativo e não é invasivo. Estava no ponto. O outro prato polvo com batata doce e grelos salteados em que a textura era óptima e o polvo estava muito tenro. Para terminar tarte de lima.
Foi um enorme prazer pernoitar neste espaço onde a arte e o design contemporâneos se fundem com a simplicidade de um espaço familiar. Sentimo-nos em casa, com todo o conforto e simpatia que a ideia sugere.
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Este artigo faz parte da série Umbigo no Porto.
Ver também: Viagem ao Porto (parte 1), Miss'Opo, Mimata e Um Hotel que Parece um Teatro