Fotografias: Hugo Lima.
Já sabemos que os suecos são super desenvolvidos, racionais, frios, gostam de dar nomes estranhos a mobiliário que nos dá imenso jeito e passar férias em resorts de Portugal. Fiquei a saber também (shame on me por não conhecer) que existem os suecos Goat que à semelhança de The Knife são surpreendentes e criativos. Semelhantes nesses aspectos porque musicalmente esta banda auto referencia-se como world music e reza a Wikipédia que os músicos começaram a tocar quando eram crianças como parte de uma comunidade tradicional em Korpilombolo, local onde houve nos últimos 30 a 40 anos muitas encarnações de cabras. Actualmente são só três os membros originais oriundos de Korpilombolo, mas nos concertos ao vivo outros quatro músicos de Gotemburgo fazem questão de se juntar ao grupo.
A atitude iconoclasta foi uma das referências da noite, duas vocalistas feiticeiras de túnica e cocar na cabeça (os vestidos tinham padrões lindíssimos) um guitarrista que parecia uma versão pobre de uma máscara de Veneza, dois baixistas de burca e um percussionista que parecia o espantalho do feiticeiro de Oz. África, América Latina e Europa, com uma pitada de rock’n’roll do Ocidente. "Es un momento cosmico!" grita um espanhol ao meu lado, ao qual eu me rio para ele como quem concorda e deixo-me levar pelo exotismo tribalista-rock da música.
O silêncio também ocupa lugar..
Oiço no ar o espaço que a multidão preenche enquanto aguardo pelo concerto de James Blake (uma das várias referências para Paredes de Coura deste ano, senão ‘a referência’) e dá para sentir a expectativa alta, vários sorrisos nos lábios e casacos de inverno para resistir à temperatura que insistia em baixar. Num cenário luxuriante que oscila entre o azul, o lilás e a cor original verde floresta, o músico imberbe de típica educação inglesa chegou e montou o seu casulo intimista de acordes que oscilaram entre o R&B e o dubstep. O silêncio fazia parte das músicas e os falsetes sentiam-se consistentes… mas não para todos, pois aqui e ali ouviam-se palavras de ordem para vontades de músicas que não fosse tão intimista e ‘pessoal e intransmissível’. Divagando entre os dois álbuns Overgrown e o homónimo de 2011, tocou Limit to your love e I never learnt to share que se bem me apercebi foram as mais aplaudidas, o que é de certa forma paradoxal tendo em conta o crowd-surf que acontece em quase todos os concertos.
A Sunday smile you wore it for a while...
canta Zack Gondon ao som dos seus tão característicos trompete, trombone, tuba e acordeão. A magia sente-se no ar e vai-se dançando aos pulinhos ou balançando de lá para cá como quem rodopia entre cadeiras. Transpira world music e os temas do último álbum salpicam aqui e ali mas sem convencer o coro afinado dos temas favoritos de Flying Club Cup.
Like a Rolling Stone...
Fazem lembrar os Growlers que já tinham dado uma music session (de directa vindos da Dinamarca) num miradouro com uma vista magnífica para a vila e o desempenho arrastado e cansado com que tocaram as músicas inspiradas num Bob Dylan surfista dos anos 60 acompanhou-os até ao fim. "I'm tired of being tired, I'm sick of being sick" assumiu a voz anasalada de Brooks Nielsen, o vocalista cheio de pinta que acompanhava o rock psicadélico em forma de ácido dos anos 60. A determinada altura o palco ocupado por dois crocodilos e um animal branco fofo (que não reconheci a espécie) abraçaram Brook, fartaram-se de dançar e ficaram sentados em frente à bateria, felizes e contentes a balançarem-se de um lado para o outro até ao fim do concerto.
Curte o Vile!
Quem há dois ou três anos ouvia Kurt Vile no palco secundário se calhar não previa que a sua música de ADN puramente americano amadurecia de forma a estar no palco principal a fazer um brilharete. Não foi bem o caso, amadureceu sim, mas não fez nenhum brilharete nem surpreendeu em nenhum acorde. Foi um lusco-fusco sentado na relva à ‘la Paredes de Coura’, em que a conversa com os amigos estava mais interessante que o concerto... ou dito por outras palavras o Kurt é um bom companheiros para conversas :^)
De rock’n’roll tatuado no corpo e zebras no mosh, os Black Lips foram como um bálsamo de garagem que nos fez pular e dançar convulsivamente ao som de Katrina e Family Tree.
Como já era de esperar (ou não) a determinada altura voaram rolos de papel higiénico do palco que fizeram lembrar espermatozóides com a caudinha a abanar. O pessoal respondeu e volta e meia lá voavam mais uns quantos entre a audiência… pelo que percebi é uma prática comum no concertos destes rapazes do rock… será que tem algum simbolismo ou apenas gostam de ter os fãs limpinhos?
Free your mind…
foi a sugestão que os Cut Copy deram durante quase todo o concerto. A frase escrita no fundo do palco e que ia mudando de cor consoante a batida da música é o nome do ultimo álbum e combina com o arco íris de bola de espelhos dos temas dos australianos. Sou suspeita, sempre gostei dos Cut Copy que me fizeram dançar enquanto repito algumas letras fáceis e bem dispostas. É isso, é música electrónica com uma pitadinha de guitarras e purpurinas que nos leva ao movimento contínuo e que (verdade seja dita) deu muito jeito porque a noite de Paredes tinha arrefecido e a humidade já se fazia sentir no ar.
Quando cheguei ao palco, os Cheatahs já estavam na sua onda melancólico-electro-vibrante de acordes que fundem de certa forma o lo-fi dos Dinosaur Jr. com a natureza melancólica de Elliott Smith. Gostei do status quo de miúdos rebeldes sem tento na língua e de guitarras afiadas, mas confesso que soube a pouco pois finaram cedo as suas funções (assim como outros concertos nesta noite).
Fugindo à análise cliché e trocadilhos jocosos que se podem fazer com os Perfect Pussy, assumo que foi uma estalada de riffs de guitarra e power agressivo de um som a 1000 à hora. Já tinha ouvido uma música aqui e ali mas honestamente ao vivo não consegui distinguir umas das outras tal a semelhança de batida e palavras de ordem da vocalista que mal se percebiam.
Foram dias e noites de muita efusividade em que as guitarras soaram mais alto e o mosh e o crowd-surf se fizeram sentir em quase todos os concertos. Houve uma ou outra nuance electrónica ao que o mega público respondeu com um savoir faire maioritariamente nortenho e cada vez mais com algumas tapas à mistura.
‘See ya soon’ Paredes :^)