Fotografias de capa: © Dezeen, Intel NewsRoom e Tech Crunch.
Qual o papel da indústria da moda no desenvolvimento das novas tecnologias wearable?
Desde o início dos tempos, a moda e a tecnologia traçaram o seu percurso em paralelo, mesmo que à partida essa ligação não seja tão evidente. Se não fosse a evolução do vestuário, a civilização não existiria como a conhecemos hoje e sem a tecnologia não teríamos desenvolvido uma noção de moda. Desde as mais antigas evoluções, como as agulhas de osso e os teares de madeira, na Pré-História, ao desenvolvimento do fast fashion, no Pós-Revolução Industrial, é inegável a ligação entre estes dois motores de desenvolvimento social e cultural. No entanto, enquanto que, nas últimas décadas, a tecnologia conheceu uma evolução exponencial, a moda tem demonstrado um crescimento menos menos representativo, bastante limitado aos mesmos materiais e técnicas.
Surge assim uma nova abordagem ao mercado. A introdução da tecnologia wearable . Aqui, a moda e a tecnologia voltam a aproximar-se, resultando no aparecimento de uma nova tendência. Ainda em plena expansão mobile, o mercado assiste à explosão dos wearables, dispositivos e acessórios tecnológicos que podem ser transportados e vestidos no corpo. Iniciada pelo Glass, o dispositivo de realidade aumentada desenvolvido pela Google, e logo seguida pelo lançamento das pulseiras de fitness, dos relógios e de outros acessórios inteligentes, a revolução wearable está crescer rapidamente. O objectivo da introdução desta nova tecnologia é torná-la mais vestível e mais próxima do nosso corpo, com a missão de tornar a sua interacção mais natural e intuitiva.
Grande parte da indústria da moda, que há mais de cem anos está encarregue de desenvolver os produtos que usamos todos os dias, não só por necessidade mas também para demonstração de poder e estatuto, debate-se ainda sobre a introdução desta nova categoria. Tanto como a sua parceira nesta batalha de surpreender o mercado. Porque é que ouvimos falar de wearables há já alguns anos e ainda não os vemos como uma realidade no dia-a-dia?
Vários estudos mostram que ao fim de seis meses, um terço dos consumidores americanos que compraram wearables, como o relógio Pebble ou a pulseira de fitness Jawbone, deixaram de usar os dispositivos. Ou seja, os seus primeiros utilizadores deixam de se lembrar de os colocar quando saem das suas casas. O que faz com que esta categoria ainda não seja apelativa o suficiente para os consumidores? Uns dizem que as preocupações da indústria tecnológica ainda não incluem as questões relacionadas com a área da moda. Outros dizem que a área da moda ainda não está suficientemente empenhada na introdução deste nova categoria.
Contudo, vários têm sido os esforços de ambos os lados para que se estabeleçam linhas de comunicação. Enquanto que, por um lado, a moda encontra nas limitações estéticas dos dispositivos wearables uma oportunidade de os complementar, por outro, começa a partir das potencialidades da tecnologia para introduzir um novo rumo ao seu próprio desenvolvimento. Por exemplo, casos de parcerias entre designers e marcas de moda que começam a ser lançados com sucesso, como os acessórios desenvolvidos pela e a bracelete MICA, que resultou de uma colaboração entre a Opening Ceremony e a Intel, ou o recentemente anunciado Apple Watch, com lançamento previsto para o próximo ano. Ou a criação de plataformas de colaboração, como a desenvolvida pela Intel com o CFDA, que fornece um espaço onde engenheiros e designers de moda podem falar a mesma língua. Aqui, existe um banco de dados de todos os chips e materiais disponibilizados pela maior empresa de componentes electrónicos do mundo.
Todos estes dispositivos, apesar de serem considerados avanços nesta categoria, são ainda vistos como produtos muito visíveis e desinteressantes e, muitas vezes, demasiado dependentes do dispositivo que carrega as nossas vidas – o smartphone. A sensação de desconforto é provavelmente semelhante à sentida com tantos outros produtos – tal como o lançamento dos produtos mobile há dez anos – que conquistaram a sua imprevisível entrada no mercado e quase sem nos apercebermos tomaram conta do nosso quotidiano por completo.
Mas a verdade é que o mercado wearable foi já avaliado entre os 30 e os 50 mil milhões de euros, para os próximos dois a quatro anos pelo Credit Suisse. No entanto, essa realidade ainda não é visível nos pulsos ou nas caras dos que passam por nós todos os dias. Tal como essas categorias de produtos que ao longo dos tempos se foram introduzindo e conquistando o mercado, talvez os wearables um dia o farão.
Mas ainda há muito trabalho pela frente. Talvez não dependa apenas da introdução de adjectivos fashionable ao design destes produtos. Mas sim, da inclusão na linha de pensamento de muitos outros fatores, como a disponibilidade de componentes suficientemente moldáveis, pequenos ou eficientes, que façam destes dispositivos, iguais a acessórios ou a vestuário que usamos diariamente. Sem nunca excluir da conversa áreas tão diversas, mas tão igualmente necessárias, como o marketing, a comunicação ou a psicologia comportamental. Claro está, porque ao introduzir uma nova categoria de produto, está a ser criada uma nova necessidade de consumo. É nesta dualidade que reside a resposta ao problema.
Assim, é claro pensar que não se trata apenas da discussão entre estas duas áreas aparentemente independentes (Moda e Tecnologia), já que estes novos produtos vão estar e comunicar directamente com os nossos corpos. Os constrangimentos que estão em cima da mesa de discussão são tão multidisciplinares quanto todas as áreas que se têm que ligar para que esta categoria de produto possa vingar no mercado. A discussão já começou. Como podemos contribuir?