Al Berto, Alberto Raposo Pidwell Tavares, poeta e artista português.
Nascido a 11 de janeiro de 1948, e com data de óbito a 13 de julho de 1997, foi um dos mais completos artistas portugueses: escritor, poeta, tradutor, editor, animador cultural, etc.
Com variadíssimas obras poéticas de sua autoria, Al Berto, seu nome escolhido para pseudónimo, ganhou notoriedade com o livro O Medo. Aqui, juntou parte da sua obra numa só antologia.
Considerado o livro mais importante da sua carreira (ganhou o prémio Pen Club de Poesia), O Medo espelha Al Berto, fazendo com que este seja considerado, por muitos, uma obra autobiográfica.
Numa entrevista a Manuel Hermínio Monteiro, pouco antes de sua morte, o autor disse: “A poesia tem-me levado ao despojamento daquilo que é lixo e me atrapalha a vida. Cada vez mais me parece que a poesia é a única linguagem capaz de atingir o rosto de um deus e feri-lo moralmente, nem que fosse por um milésimo de segundo”. Mais que um dom inato, para ele a poesia era também uma fuga e uma verdade.
Em toda a sua obra é possível perceber-se que o poeta escreve como que dialogasse consigo mesmo, falando e questionando tudo e todos; entre muitas coisas, a hipocrisia, a religião e o amor.
Leia-se, por exemplo, neste excerto de um poema, a sofreguidão com que via as palavras e o seu poder: “A escrita é a minha primeira morada de silêncio/ a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras/ extensas praias vazias onde o mar nunca chegou/ deserto onde os dedos murmuram o último crime/ escrever-te continuamente... areia mais areia/ construindo no sangue altíssimas paredes de nada/ ... ”
Al Berto entrega-se à escrita como uma forma de viver e também como uma forma de (quase) morrer. A falta de pontuação “separa”, por vezes, o autor do texto, dando-nos margem para elevarmos a voz onde mais nos “magoa”.
“Definha-se texto a texto, e nunca se consegue escrever o livro desejado. Morre-se com uma overdose de palavras, e nunca se escreve a não ser que se esteja viciado, morre-se quando já não é necessário escrever seja o que for...”
Em todas as suas obras, é notável como Al Berto mistura as Artes de que era conhecedor. Na capa do seu livro O Medo, aparece num retrato (encenado por Paulo Nozolino em homenagem a Caravaggio), embrulhado num pano vermelho-sangue, transmitindo-nos, realmente, medo. Não dele, nem de nós, mas talvez deste efémero Mundo.
Assírio & Alvim, editora que abraça algumas das obras do poeta, tem uma quarta edição muito completa deste livro.
Para quem não conhece o poeta, este é o livro de Al Berto a ler. Para quem o conhece, está na hora de o reler, também.