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Bienal de Arte Contemporânea da Maia’19 – Import / Export e a urgência de se saber olhar para a cidade

A edição de 2019 da Bienal de Arte Contemporânea da Maia invade, questiona e decifra a cidade a partir do tema Import / Export. Numa cidade de territórios híbridos, entre o rural e o industrial, e no ano em que a Maia celebra 500 anos da atribuição do Foral Manuelino ao concelho, é no fôlego contemporâneo que a geografia, a urbanidade e os perímetros socioculturais são expandidos e tratados em laboratórios criativos. Em 16 contentores implantados em 7 locais estratégicos do concelho, a Bienal da Maia cria eixos de pensamento crítico entre a Arquitetura, o Design, as Artes Plásticas e os Novos Media.

A arquiteta Andreia Garcia, curadora geral desta 8ª edição, explica: “Este cenário enquanto laboratório, enquanto aprofundamento de questões sobre o território de fronteiras, conduz a uma reflexão mais concentrada no contexto das ameaças à identidade. Será talvez o conjunto de regras que pautam o desenho dos territórios o que lhes infere o caldo de cultura. São constelações dispersas, ampliadas sobre um espaço de oposições. Possivelmente é a ânsia por uma existência estável o que está na base da criação das cidades, mas o território da Maia apresenta-se pronto para a dimensão de abstração da urbe, pela apropriação discursiva de um território-criação. Uma anonímia criativa que a cada novo passo construtivo gera uma série de novas memórias e uma sucessão de novos retratos.”

Import / Export elege o espaço público (link para mapa aqui)  como local de excelência para a democratização da arte e a relação direta com as questões pertinentes à cidade e ao entendimento das suas micro-identidades. É uma exposição poli-localizada onde a relação passado-futuro da cidade e a necessidade de perceber as interfaces entre o local e o global são premissas estruturantes no seu desenho. Como Andreia Garcia refere “este seria um discurso apenas possível se operasse de forma disseminada no território e se nele assentasse sob forma de contentor binómio – por um lado símbolo do paradoxo do tema, por outro, condição do tornar possível a (con)figuração da (re)criação da nova experiência plural sobre os vários locais, os seus sentidos e as suas atmos(feras)”.

Numa exposição que reúne 40 artistas e 24 novas criações, convidaram-se vários curadores para cada área disciplinar, assumindo a curadora geral que “mais do que criar uma narrativa ― para o que se puder vir a dizer sobre este tempo ―, esta proposta pretende criar uma reflexão alargada sobre o rumo contemporâneo, que levanta novas perguntas e convoca novas respostas resultando numa construção ligada em rede pluridisciplinar”.

Luís Pinto Nunes e Luís Albuquerque Pinho assinam a curadoria do eixo disciplinar das Artes Plásticas, com desafios sobre novos perímetros lançados aos artistas Sara & André, Dayana Lucas, Horácio Frutuoso, Mafalda Santos, Bryana Fritz, Tiago Alexandre, Francisco Oliveira, Carla Filipe e Carlos Azeredo Mesquita. Diogo Aguiar e Javier Peña Ibañez assumem a curadoria do eixo da Arquitetura, trazendo-nos uma nova visão sobra a ideia de contentor/expositor, com um programa ambicioso e visionário, onde através de 4 novas comissões nos apresentam conteúdo (re)fazedor de espaço e território. O eixo disciplinar dos Novos Media ficou entregue a Sara Orsi que cura a partir de realidades locais e globais sobrepostas para esta biena, sob a forma de exercícios de relações de importação e exportação dos modelos de partilha, convidando ao pensamento coletivo vários criadores de diferentes nacionalidades.  A curadora Vera Sacchetti foi convidada para o eixo disciplinar do Design onde apresenta intervenções à escala da cidade ou em criações imateriais, promovendo através de vários autores que questionam sobre as certezas de especialização do design que antecedem a primeira parte do séc. XXI.

É sobre o território da cidade real, intemporal, local e global, que esta bienal nos provoca, numa edição perspicaz, que nos permite refletir a amplitude do pensamento contemporâneo e a necessidade do cruzamento de eixos disciplinares, de geografias e de identidades, para melhor debatermos as problemáticas da cidade, cumprindo-se a ambição que Andreia Garcia nos anunciou: “com este conjunto de questões, estímulos e provocações, e a partir da Maia, aproximamo-nos de um novo entendimento de pensamento sobre a cidade, sobre a dimensão imaterial e material, sobre a identidade local e global, sobre as fronteiras e as invisibilidades, sobre o Homem e a Natureza, sobre os movimentos e os prazeres, sobre as dores e os desejos.”

Até 27 de julho e com uma programação paralela à exposição que contempla, performances, workshops, debates, visitas orientadas e emissões de rádio, será no dia do seu encerramento que, pelas 18h no Parque Cidade Desportiva, será lançado o catálogo da Bienal de Arte Contemporânea da Maia’19. Até lá, todos os contentores podem ser visitados, com entrada livre de terça a sexta-feira das 14:00 às 19:00, sábados, domingos e feriados das 10:00 às 13:00 e das 14:00 às 19:00.

Fabrícia Valente é formada em Arquitetura pela Universidade de Évora (pré-Bolonha) e tem formação em áreas complementares como o vídeo, a fotografia e a produção de exposições temporárias. Desenvolve a sua atividade entre a Curadoria (ex: Pavilhão KAIROS), a Crítica (é editora da secção online de Arquitetura da Umbigo Magazine e faz parte da redação do J-A) e a Mediação Cultural (Museu Coleção Berardo e MAAT), já tendo trabalhado em mais de 90 exposições. Colabora com diversas entidades na procura da multidisciplinariedade entre a Arquitetura, as Artes Plásticas e a Música, áreas onde está a desenvolver trabalhos de investigação.

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