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Fotografia de capa: Hélio Oiticica, Magic Square (F: Rossana Magri)

É difícil não ficar extasiado ao visitar o Instituto de Arte Contemporânea Inhotim, um espaço singular que relaciona arte contemporânea, arquitetura, botânica e paisagem. O complexo localiza-se no município de Brumadinho, numa região montanhosa a 70 Km da capital de Minas Gerais, distante do tradicional eixo brasileiro das artes compreendido entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

Inhotim ocupa uma área de 140 hectares e abriga o acervo de arte contemporânea e botânica do empresário Bernardo Paz. Aproximadamente vinte galerias e pavilhões apresentam as obras da coleção, que também se localizam ao ar livre no meio de uma natureza exuberante.

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Jardins (F: Rossana Magri)

Inhotim é atualmente o maior museu de arte do mundo a céu aberto. O megacentro acumula obras não só em quantidade, mas também em escala. Os trabalhos  distribuem-se ao longo do impressionante ambiente composto por jardins, floresta tropical, lagos artificiais e pavilhões arquitetónicos que pontuam a paisagem local. O excêntrico colecionador comissaria complexas obras de grandes dimensões e ainda constrói pavilhões especificamente pensados para abrigá-las. Qual artista contemporâneo não gostaria de ter uma obra comissariada por Paz e ter o seu trabalho em permanente exposição no luxuoso espaço dedicado à arte contemporânea?

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Tacoa Arquitectos, Galeria Adriana Varejão (F: Eduardo Eckenfelds)

Os pavilhões e galerias, construídos em épocas distintas, muitas vezes foram concebidos especificamente para receber, de modo permanente, mostras individuais de artistas nacionais e internacionais. Já as galerias Fonte, Lago, Mata e Praça apresentam exposições temporárias de obras que integram a coleção de arte, que conta com mais de 700 trabalhos de cerca de 200 artistas de diferentes países do mundo. O acervo Botânico, com mais de 4200 espécies, possui uma grande diversidade de plantas raras entre espécies nativas e exóticas. O visitante é convidado a experimentar de modo multissensorial o complexo construído com o intuito de se inserir no contexto artístico internacional. A dimensão é tão grande que muitas vezes é necessário o uso de carrinhos elétricos para alcançar as obras situadas em pontos distantes.

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Yayoi Kusama, Nascissus Garden (F: Pedro Motta)

É inegável a importância das obras presentes na coleção, principalmente no que tange a produção artística nacional. Inhotim possui uma parcela significativa das instalações de Cildo Meireles, importantes obras de Tunga e Hélio Oiticica, como também conta com a presença de artistas mais jovens com obras ainda não tão consolidadas, mas com participação ativa no cenário internacional. Não podemos deixar de destacar a presença dos artistas internacionais como Janet Cardiff, Chris Burden, Doris Salcedo, Matthew Barney, Olafur Eliasson e Giuseppe Penone.

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Cildo Meireles, Através (F: Daniela Paoliello)

Um dos pontos altos do Inhotim é o diálogo entre a arte contemporânea e a arquitetura. As galerias e pavilhões abrigam trabalhos de grandes dimensões e possibilitam um diálogo dinâmico entre as obras artísticas e o lugar no qual se inserem. Desse modo, a experiência das instalações torna-se inseparável da vivência do ambiente arquitetónico. É importante destacar que a arquitetura das galerias, ao contrário de alguns museus atuais, não se sobrepõe às obras apresentadas. Um exemplo é o pavilhão projetado por Rodrigo Ceviño, em 2008, para receber de modo permanente a mostra da artista Adriana Varejão. A galeria é o resultado de uma parceria antiga da artista com o arquiteto e aponta a integração profícua entre a arte contemporânea e a arquitetura.

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Tacoa Arquitectos, Galeria Adriana Varejão (F: Eduardo Eckenfelds)

A relação dinâmica entre interior e exterior presente no complexo do Inhotim aparece potencializada no Sonic Pavilion, do artista Doug Aitken. O pavilhão circular de vidro e aço, concebido pelo próprio artista, mantém um diálogo estreito com o ambiente natural ao redor. Paredes de vidro revestidas por uma membrana estabelecem uma alternância entre momentos de transparência total e opacidade em relação ao seu entorno. Uma vez dentro do pavilhão o visitante entra em contacto com o som do interior da terra capturado através de microfones instalados num único buraco de 200 metros localizado no centro da galeria.

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Doug Aitken, Sonic Pavilion (F: Pedro Motta)

O Inhotim apresenta-se num estado de constante crescimento e transformação. As suas ações procuram alcançar um público cada vez mais amplo. Para isso o Instituto conta com um programa educativo que atende escolas da rede pública e privada. As suas atividades estendem-se para além do seu espaço físico através do Inhotim Escola que visa promover ações sócio-educativas na comunidade de Brumadinho. Recentemente realizou a primeira exposição fora da sua sede Do objeto para o mundo – Coleção Inhotim ampliando ainda mais o seu campo de atuação e divulgação da sua coleção. No presente momento os números apontam para mais de dois milhões de visitantes desde a sua abertura, em 2006.

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Jorge Macchi, Piscina (F: Pedro Motta)

A grande dimensão do espaço, a coleção singular de arte contemporânea e botânica, a paisagem exuberante, a excelente gastronomia, um número cada vez maior de público conferem ao espaço dedicado à arte atual um aspeto espetacular. Fica porém a dúvida: seria o Inhotim um modelo de museu para a arte contemporânea?

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