Texto: Eliana Macedo / Fotografias: Miguel Silva Rocha.
Qual a relação entre blogs e marcas? Quais os benefícios e desvantagens de um marca se associar a um blogger? Enquanto criadores de conteúdo, que valências podem os bloggers acrescentar às marcas? Nesta terceira mesa redonda, o Porto Fashion Makers convidou os diretores de marketing da Parfois, André Costa SA e Skin.pt e os bloggers da Pretty Exquisite, Beyond Fabric e Frango no Campo, para debater os princípios e os objetivos destas parcerias estratégicas.
Um blogger é um opinion maker, uma tribo urbana liderada por pessoas únicas, que têm uma estética própria e diferenciada. É um criador de conteúdo. É por isso que os blogs são um canal fundamental para o posicionamento das marcas.
No entanto, temos verificado junto da nossa comunidade criativa que existe um grande desconhecimento por parte das marcas acerca do funcionamento destas colaborações. A que blogger devo associar o meu negócio? Como devo contacta-lo? Quais as contrapartidas desta parceria?, são algumas das questões a que pretendemos responder neste debate.
Susana Coerver, diretora de marketing da Parfois, começa por explicar que “quem vive essencialmente de owned media (que são as redes da marca) e earned media (que é a media que um blogger gera) precisa de escolher muito bem quem são as pessoas com quem quer trabalhar, porque é a partir delas que vai formar o seu posicionamento”. Como fazê-lo?
Eliana Macedo e Susana Coerver
Na perspetiva de blogger, Diana Vinha, consultora de imagem na Pretty Exquisite e stylist na Farfetch, antes de partir para a abordagem, “as marcas deveriam saber selecionar e entender a quem é que o conteúdo vai chegar e conhecer minimamente o trabalho das pessoas por trás do blog e o que fazem”.
Para Miguel Amaral, diretor de marketing da André Costa SA e blogger no Beyond Fabric, a escolha do blogger “passa muito pelos objetivos da marca e pela questão de a quem é que se quer associar e que repercussões é que isso pode ter”. Por exemplo, “posso querer criar uma narrativa de história de imagem ou posso querer resultados comerciais. São abordagens diferentes e enquanto marca é isso que tem que ter em atenção”, explica.
Aqui levanta-se a questão: O objetivo da marca é venda ou é construção de imagem?
Luís Figueiredo da skin.pt avança que “é tudo uma questão de estratégia”. Pela sua experiência, “ou se quer fazer uma parceria com alguém que se está a vender e toda a gente sabe disso, ou trabalhar com alguém pode ter menos visibilidade mas sabe trabalhar o produto como a marca pretende, ainda que não tenha um impacto imediato em vendas”.
“A marca pode assumir que quer associar-se a alguém que se quer vender, numa vertente puramente comercial e para ganhar awarness, ou se já está no mercado há mais tempo e já tem presença, a marca pode escolher mais cuidadosamente com quem quer trabalhar”, concorda Miguel Amaral. “A questão do conteúdo original é muito importante, no sentido de ser único e diferenciador”, conclui.
Susana Coerver comenta que “vivemos na era da verdade a cima de tudo”. Nas palavras da diretora de marketing: “quando entrei na Parfois, decidi construir relações de verdade. Tenho uma equipa espetacular e eu digo que nós fazemos handmade marketing, conhecemos o gosto de cada pessoas, fazemos todos os embrulhos personalizados e diferenciados para a imprensa e para as bloggers".
Também Diana Vinha defende “que a base é ser o mais transparente possível, apresentar o blog, os seus objetivos e saber o que querer retirar das parcerias”. A blogger do Pretty Exquisite explica que “quando apresentam marcas ou produtos novos, é sempre de uma perspetiva do que gostam. Por essa razão, considera que “não se vendem, nem fazem publicidade a coisas em que não acreditam”. E complementa: “Já tivemos muitas propostas e a nossa primeira questão é de se a review é para ser de facto honesta. Se não for, é imediatamente recusada”.
Também Miguel Amaral e Naida Folgado já recusaram parcerias. “Normalmente não me vendo, tenho uma linha muito orientada e quando trabalho com marcas tento sempre que seja com coisas que eu usaria”, partilha Miguel. Para Naida Folgado, do blog Frango do Campo, as marcas podem sugerir, mas não impor aos bloggers. “Às vezes nem é a questão da marca em si, é o produto. Se eu não me identifico, não vou utilizar os produtos no meu blog”, partilha a blogger de culinária, que já trabalhou com marcas como a Galo e a Coca-Cola. Aliás, Naida verificou que o mais importante para as marcas que a contactam são mesmo a sua paixão pela cozinha e as suas histórias e experiências pessoais.
Miguel Amaral considera que “desde que seja uma comunicação aberta e as coisas sejam definidas de início, as marcas podem exigir o que quiserem aos bloggers”. Em termos de abordagem por parte do blogger, sugere “uma apresentação inicial muito clara dos objetivos e da proposta do valor para a marca”, assim como a apresentação de um portfólio que apresente o seu percurso profissional.
Luís Figueiredo afirma que “seguem os blogs com que trabalham regularmente e têm uma pequena equipa que fala com eles e que está ativamente ligada a manter esta relação com os bloggers. Em conclusão, Susana Coerver comenta que “a informação hoje em dia é gigantesca, por isso, tem que se escolher um caminho e quando se escolhe tem que se eliminar outros automaticamente”. E recomenda “ser simples, saber direcionar, escolher um só caminho e ser real”. Afinal “nada tem mais likes do que o que é real, o que é autêntico”.