MÚSICA

  • none
  • none
  • none
  • none
  • none
  • none
  • none
por

Fotografias: dcs.

Diz a mitologia popular, que em qualquer dia 13 – sendo sexta-feira – o azar pode muito provavelmente espreitar. Eu que sou avessa à manada, tenho para mim que sexta-feira 13 só poderá trazer "saúde e sorte".

Ainda Youtless, banda de primeira parte de Unknown Mortal Orchestra, estava a tocar quando recebo o primeiro eco de Paris. Um amigo tinha achado por bem respirar o ar parisiense no fim-de-semana. Foi impossível demitir-me de tais notícias. Pessoas em circunstâncias semelhantes às minhas, às nossas, num Armazém F há muito esgotado, para um momento que deveria ser de comunhão, de liberdade. Respirar fundo mais uma vez, e outra e Unknown Mortal Orchestra (UMO) em palco. Momento de felicidade. Eles gostam de nós, e nós gostamos muito deles. Pela quinta vez em Portugal, esta não seria a primeira sala que esgotavam. A primeiro em 2013, no Porto, numa noite de Clubbing, a Saggia terá vibrado.

Com roupagens mais rápidas, solo nada tímidos apesar de Ruban Nielson se recatar por vezes para uma zona menos iluminada do palco. UMO tocaram quase em partes iguais canções dos três álbuns, sendo muitas delas foram entoadas como hinos e não só as mais óbvias: The world is crowded, So good at being in trouble e claro Multi-love. Nos primeiros acordes de todas, soltavam-se gritinhos perante o reconhecimento sónico. Telemóveis em riste, embora cada vez menos, felizmente. Começa-se a ver mais com os olhos e menos com o ecrã. De qualquer forma registei sem pudor as gotículas de um transpirado Nielson, quando este decide esticar o cabo do seu microfone, esgueirar-se por entre umas escadas cerradas de pessoas e subir cantando até ao primeiro andar. Debruçado sobre a varanda saúda e lança Stage or Screen. Para quem os acompanhou sempre por terras lusas, vê-los a solo em Lisboa, fora do alinhamento dos festivais de verão, foi um momento aguardado e merecido. No encore – Necessary evil teve uma roupagem muito mais acelerada e ritmada e Can’t keep checking my phone, instigam oficialmente à fluidez de uma dança frenética e em crescente aceleração. Poucas horas depois, e no Instagram da banda – "love to arrive and hate to leave. Lisbon. Portuguese audiences are the best".

Pista

Escapei-me. A noite tépida de Outono rumo ao Musicbox. Nas imediações, pela primeira vez, mas não única na noite, a palavra "Barreiro". Apresentação de Bamboleio, o primeiro álbum de Pista, trio composto por Bruno Afonso (voz e bateria), Cláudio Fernandes e Ernesto Vitali (ambos voz e guitarra). Antes um EP homónimo e algumas milhas de rodagem pelos mais condignos palcos de norte a sul: ZDB, Lux Frágil, Sabotage, NOS Alive, Milhões de Festa, Braga Music Week e, claro está, o Barreiro Rocks. Na porta, "Puxo" comigo dois amigos. Agora somos também três e rumamos juntos à folia de um rock afro-tropical. A casa estava composta. O palco também. Nós agora éramos três e eles não. Eles eram vários amigos e companheiros de pauta. Alex D’ Alva Teixeira no micro e na dança, Fast Eddie Nelson e Nick Nicotine nas guitarras, Luís Nunes nos teclados e sintetizador, Beatriz e Ricardo Ramos dos Dirty Coal Train a pegar em mais guitarras, Ricardo Martins dos Lobster numa segunda bateria e Óscar Silva AKA Jibóia numa sétima guitarra. Incrível como cabe tamanha família num palco só. Eh calma, nada de discriminações que os Bro-X também lá estiveram para cantar e espalhar charme. Balões fluorescentes foram alimentados durante todo o concerto ao som dos movimentos de um público feliz, de sorriso na cara e nariz no ar como Snoopy. No final, tudo correu a comprar o disquinho prensado em vinil branco, qual peça de marfim dentro de um envelope botânico. Autógrafos dados, conversa e impressões trocadas entre instrumentos em trânsito. Maus Hábitos, no Porto, seria o destino do dia seguinte. Beijos, abraços e um boa viagem com um até já acenado.

Lounge-1

Lounge-2

Atrasados, mas mais Cais Sodré – o Lounge. Saudar o programador residente, que tão generosamente alinhou os seus horários para que outros como nós pudéssemos cumprir agenda. Noite de Salón Fuzz #13, não ingenuamente marcado no calendário. As letras de Bráulio Amado serpenteiam nas paredes, em efeitos hipnóticos; e só depois uma figura elegante e esguia, de caracóis escuros a cobrir-lhe o rosto. Entoava por cima de samplers previamente disparadas ao seu comando, que gingava em plena actuação. Exibia orgulhosamente uma luva de couro sem dedos, coberta de tachas bicudas. Era na sua mão direita que esta brilhava ao manejar o microfone, algures entre o disco, funk, o punk e o rock. O seu nome: Shredder AKA Chris Vídeo, ave rara de Brooklyn. "Isto é tão industrial e está a saber-me tão bem!!!" — comentou a Sónia. Certeira afirmação, pensei. Ambas sorrimos. Synth-punk sci-fi, entre o industrial, o techno e o psicadelismo noise, foi assim que nos embalou como se fossemos as duas ao sabor da brisa. Príncipe Valente, Mário de seu primeiro nome tomou depois os pratos de assalto. O seu a seu dono, não fosse a noite e o bom gosto da programação de Salón Fuzz da sua responsabilidade.

E resista corpo. Maxime Sur Mer na noite de inauguração. Seria o último destino? Nunca se sabe, porque a liberdade é coisa para tocar o infinito. Noite de festa, mas festa haverá sempre por lá. Casa de espetáculos e artes várias, "Cabaret", concertos, giradisquismo de alto gabarito e ecletismo. Numa noite pode calhar de tudo. É ir à surpresa e aventura. Sucedem-se números de "Burlesque", um quarteto de cordas, que tocou Mozart, Scott Joplin, Bizet e Raul Portela, e mais caracóis em palco, desta vez o radialista Tiago Castro nos pratos a difundir vibrações sónicas direccionadas para a ginga contínua das ancas. Pelo meio jam sessions e lugar para um imitador de figuras políticas a relembrar a confusa identidade estadista que nos governa.

ARTIGOS RELACIONADOS

Música

Newsletter

Subscreva-me para o mantermos actualizado: