Fotografias: ModaLisboa.
A minha vinda ao ModaLisboa é sempre algo sobrenatural, uma experiência meio "out of body" onde nunca sei muito bem catalogar o misto de sentimentos relacionados com este evento. Há um Q de inspiração, um Q de desejo e um Q de incredibilidade, algo que nem sempre atinjo (diria que até é uma espécie de nirvana). Não sou, de forma alguma, uma grande conhecedora de moda e não me desdenho como tal. Apenas interpreto o que vejo, baseado nos meus largos anos de estudo de História de Arte e nos quantos que tenho de fotografia de moda. Assim sendo, as minhas escolhas fotográficas a nível de peças (bem como opiniões expressas) são um misto de "favourites" com "wishlist" com "bestof" e é importante que sejam tomadas como um grão de sal num molho de palavras por toda a internet e redes sociais.
Não acho que haja melhor forma de iniciar um evento de moda sem ser com "Sangue Novo", para que todos vejam o que as caras novas têm a dizer sobre as tendências na área e o seu próprio percurso criativo. Nesta edição destacaram-se a resistência de Inês Duvale expressada pelos pretos e as cores da Liberté, Igualité et Fraternité; a inspiração no Leste Europeu de Tânia Nicole (tanto nos cortes como nos prints); a interpretação MOD de Sara Santos com os seus estampados plad e peças oversize; o styling, cabelos e transparências de Ruben Damásio inspirado no H2O; o Patrick de Padua com o seu trabalho silenciado no branco total e elementos desportivos; a visão streetwear de Banda; a saturação do amarelo em Carlotaoms; as tiras de gangas e azuis de Carolina Machado; Cristina Real e a sua estética polida, brilhante e glamourosa e David Catalán inspirado nos preppy anos 70, misturando o rosa bebé com os pretos profundos.
Ainda no primeiro dia tivemos Awaytomars e Catarina Oliveira na plataforma LAB. Os primeiros encheram a passarela de tons azuis acinzentados e imensas ideias a nível construtivo. Catarina preferiu os tons nude e os estampados misturados com os brancos e transparências, colmatando o styling com óculos de sol em madeira de todas as formas e feitios. Já nas passarelas do Pátio da Galé colmataram o dia Luís Carvalho, com um preto imenso e flores azuladas em peças claras ilustrando uma Primavera pálida, e Carlos Gil com silhuetas femininas, uma paleta variada e tecidos cheio de brilho
O segundo dia recomeçou com a plataforma LAB em que Nair Xavier, Olga Noronha e Ricardo Andrez lançam os seus pontos de vista. Nair, sempre com o seu tailored menswear não desiludiu, bem como Olga Noronha e o seu grito de apoio ao IPO (apoiado pela Rebook) em que apresentou uma colecção criativa e exuberante de cabelos e perucas. Todo o performance das peças ficaram à vista de quem passou pelas mesmas, expostas de forma escultural como se um museu se tratasse. Andrez focou-se na transparência e nos picotados, onde a cor é um elemento secundário e a desconstrução é essencial. Finalizado o LAB passamos aos suspeitos do costume: Christophe Sauvat ilustra o ecléctico e o feeling boémio (aliado a brincos de Viana do Castelo); Valentim Quaresma mostra-nos o seu ecossistema imaginário com peças dignas de qualquer escultura em museus (e sem medo de usar a cor em seu proveito); Saymyname alia o 3D printing às peças na passarela; e Miguel Vieira leva-nos à sua interpretação pela arte abstracta de Mondrian em tons de branco, preto e azul, com a elegância e luxo que sempre lhe estão adjacentes. Este penúltimo dia de Moda Lisboa finaliza com Ricardo Preto, que nos mostra a sua mulher effortless e andrógina que consegue ser ao mesmo tempo determinada, cosmopolita, trendy e feminina; e Alexandra Moura, que inspirada no Milagre das Rosas cria peças chamativas e esculturais, com vermelhos régios e padrões cheios de rosas (em preto e … guess.. rosa!!).
Finalmente chegado o último dia, ainda havia muito para dizer. Nuno Gama continuou a sua aventura náutica (iniciada no anterior ModaLisboa) com a colecção inspirada nos navegadores e nas descobertas em África e Ásia. Filipe Faísca procurou uma mulher sem medos das transparências e de silhuetas altamente femininas, onde predominaram os vestidos e as saias. E enquanto Kolovrat se manteve nos pretos e nas silhuetas largas e dinâmicas, Nadir Tati (que lhe seguiu) explodiu a passarela de cor, tecidos luxuosos e apliques femininos, havendo sempre espaço para interpretar a sua ilustre mulher africana. Pedro Pedro preferiu um look informal de cortes bem elegantes, com alguns decotes muito modestos e tecidos de máxima elegância; já Piotr Drzal procurou um homem casual e desportivo, mantendo movimento nas peças (bem acessíveis e despreocupadas). A edição Primavera/Verão de 2016 do ModaLisboa finalizou com os desfiles de Aleksandar Protic que reinventou a mulher-deusa, optando pelos drapeados e pelos tons neutros; e Dino Alves, uma autêntica colecção-performance sobre as ideias e o processo criativo de desenhar uma colecção de moda, expresso nas assimetrias e volumes irregulares, bem como os rabiscos feitos em 3D.
Para mais detalhes e fotos de backstage vejam em breve a nossa página do Facebook, onde mostro a a fundo toda esta jornada de 3 dias intensos, chuvosos mas sempre valiosos e criativos.